terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Arquitetos e Construtoras falam sobre a "Verticalização" na Cidade de Juiz de Fora/MG


Algumas semanas atrás foi apresentado aqui no "O THAU DO BLOG" informações acerca do Treinamento Profissional " Mapeamento e Documentação da Nova Produção de Arquitetura da Cidade de Juiz de Fora/MG (1990-2011)", desenvolvido pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, tendo como responsável o Professor Antônio Agenor Barbosa e a equipe constituída por: Ana Luiza Delgado - atuante, Blenda Vianna - até final de 2012, Carla Bernardes - até início de 2013 e Ives Dotta - atuante.

Nesta pesquisa foram feitas entrevistas de vários escritórios de arquitetura, assim como construtoras e imobiliárias da cidade estudada. Foram abordados vários temas, dentre eles: A VERTICALIZAÇÃO que vem ocorrendo em Juiz de Fora.

Na postagem a seguir, foi elaborada uma síntese sobre a opinião dos Arquitetos e Construtores da Cidade de Juiz de Fora acerca deste Tema:

"A cidade é um espaço dinâmico que está em constante movimento. Em um contexto global de urbanização crescente e de transformações acentuadas no espaço das cidades, destacam-se os processos peculiares à dinâmica das grandes cidades brasileiras, que alteram substancialmente sua configuração, promovendo rupturas no tecido urbano consolidado e nas práticas de apropriação e uso desse espaço, comprometendo sua sustentabilidade." (SCUSSEL, Maria - 2010).


Imagem ilustrativa
Fonte: Blog Henrique Branco


Um dos principais processos recorrentes dessa urbanização é a verticalização.
A verticalização implica a conjunção e a análise de muitos fatores que afetam o espaço público urbano. Alguns deles são mensuráveis, como o incremento de fluxos de pessoas e veículos nas vias, alteração do microclima local, eficiência energética, etc. Outros, relacionados à percepção humana, são essencialmente qualitativos. Nesse último grupo, inserem-se, por exemplo, as avaliações estéticas dos contrastes de altura, as sensações em função das proporções (principalmente comparações com a escala humana) e as sensações causadas por uma paisagem urbana de amplitude limitada.
Segundo Maria Adélia de Souza (1994), a verticalização urbana constitui-se numa “especificidade da urbanização brasileira”, pois “em nenhum lugar do mundo o fenômeno se apresenta como no Brasil, com o mesmo rítmo e com a mesma destinação prioritária para a habitação”.

As reflexões e discussões sobre o tema são amplas e variadas, e, por isso, decidiu-se buscar a opinião dos principais arquitetos e construtores da cidade de Juiz de Fora. O intuito era o de se obter uma perspectiva mais técnica, em relação aos projetos que estão desenvolvendo na cidade e suas observações sobre o espaço urbano atual. 
   
Segundo o arquiteto Nikola Arsenic, do escritório Arsenic Arquitetos Associados:
"... a verticalização de Juiz de Fora é resultado de sua 'Lei de Uso e Ocupação do Solo'. É só observar o mapa de distribuição dos 'coeficientes de aproveitamento' para se compreender esse 'fenômeno' local.
Mas, a princípio, sou a favor da verticalização. Ela é racional e sustentável em termos de uso de recursos disponíveis e distribuição de caros sistemas de infraestrutura que abastecem e aliviam o corpo urbano. Cidades que pretendem crescer precisam, de alguma forma, incluir a verticalização nos seus planos. Ou seja, ela é inevitável! Poderia ter diferentes padrões e deveria certamente ser melhor fiscalizada (porque frequentemente foge as leis...), mas como manifestação arquitetônica tem sua razão e lógica, faz séculos. Então, acredito que basta saber empregar as suas boas práticas."

De acordo com o Arquiteto Hérmanes Abreu:

"...a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Juiz de Fora permite essa verticalização. Percebe-se a tendência de se fazer prédios com muitos andares e finos, mas isto também,  é resultado das características dos loteamentos da cidade, os terrenos aqui são compridos e estreitos. O preço desses terrenos também cresceu muito. Portanto para que o projeto seja viável financeiramente o terreno tem que abrigar vários apartamentos. É uma questão de viabilização.

O perfil do morador de Juiz de Fora não mudou, não perdeu-se a  concepção de 'morar no centro', isso também influencia na  verticalização e no adensamento das áreas centrais da cidade."

O arquiteto Eduardo Felga, do escritório Arquitetônica, fala o seguinte: 

Sou a favor da verticalização, claro que com estudo da  infraestrutura, impactos no entorno etc. 
Sou crítico a vários pontos do código de obras de JF. Um dos pontos é a fórmula de gabarito, ela simplesmente não traz nenhum   benefício na qualidade do espaço no que diz respeito à vizinhança, cria- se um enorme afastamento da testada do lote e permite encostar em       uma das laterais ou um afastamento mínimo da outra lateral e dos     fundos. A vizinhança, imediatamente o entorno, sofre grandes  consequências com este tipo de implantação.”

Segundo Guilherme Ferreira, do escritório Skylab Arquitetos:
"... a verticalização muitas vezes é necessária. Juiz de Fora tem o grande   problema do relevo, e tudo se concentrou no vale (centro da cidade, por    onde passa o rio) – única área plana que existe, e, mesmo assim, agora já verticalizado. Muitas vezes a verticalização ajuda, quando pensada e        planejada antes. Entretanto, o que está acontecendo em Juiz de Fora  não é saudável para a cidade, e é muito difícil lutar contra, já que todos  têm o direito de morar. A maneira de controlar essa situação é com o plano urbano – tentar expandir, criar outros centros urbanos, outras áreas habitáveis nas quais as pessoas tenham vontade de morar e não precisem ir para o centro da cidade suprir as suas necessidades. As construtoras e empreendedores querem resultado: construindo edifícios   longe do centro da cidade, não haverão compradores. Para resolver  essa situação é um esforço além do que os arquitetos podem fazer, já que não são eles que ditam o local onde será executada a construção. Talvez o arquiteto possa ajudar a melhorar a questão do plano urbanístico da cidade, mas é um estudo muito grande a ser feito."

Para Rogério Mascarenhas Aguiar, do escritório Mascarenhas   Arquitetos Associados:
"... a verticalização é muito positiva, na medida em  que se utiliza melhor o solo urbano. Mas há limites. Não se pode fazer um prédio de vinte e dois andares em uma rua de apenas seis metros de largura. Isso gera um impacto no trânsito que não é estudado. Uma  cidade mais compacta é muito mais sustentável do que uma cidade espalhada, já que as demandas (rede de esgoto, asfalto, fiação elétrica,ocupação de território, etc.) e impactos ambientais são muito menores." 
Segundo o Diretor Técnico da Construtora José Rocha Empreendimentos Imobiliários Ldta. :
"Para ocorrer a verticalização, deve-se haver uma infraestrutura que atenda a isso. Se  os órgãos municipais aprovaram, é porque existe um estudo para   melhorar o fluxo de carros. A verticalização tem credibilidade, contanto que seja bem feita e bem projetada.”

Juiz de Fora década de 30
Fonte: Site Juiz de Fora para sempre

Na foto acima, a Catedral da Cidade de Juiz de Fora encontra-se em destaque (década de 1930), já na foto abaixo (década de 2000) está escondida em meio à verticalização sofrida pela cidade.

Juiz de Fora década de 200
Fonte: Site Juiz de Fora para sempre
Juiz de Fora irá cada vez mais se verticalizar, pois a expansão para sua periferia é muitas vezes inviável devido à sua topografia - uma cidade rodeada por morros. O centro encontra-se saturado, mas ainda continua sendo o local mais caro e mais procurado para se morar e construir. 
Outros temas que dizem respeito sobre a Cidade de Juiz de Fora serão publicados aqui. Assim como, as opiniões dos principais Arquitetos e Construtoras da Cidade. Aguardem!
Agradecimentos aos Escritórios e Construtoras:
Arsenic Arquitetos Associados
Hérmanes Abreu
Arquitetônica
Skylab Arquitetos
Mascarenhas Arquitetos Associados
Construtora José Rocha Empreendimentos Imobiliários Ldta.
Texto: Ana Luiza Delgado e Ives Dotta - Graduandos em Arquitetura e Urbanismo/UFJF
Colaboração e publicação: Por Carla Bernardes




         

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