domingo, 20 de janeiro de 2013

Os Históricos Quiosques de Montevidéu

Típico quiosque de Montevidéu

Relatos e pesquisa de uma viagem a Montevidéu
Por Vitor Wilon


São 100 anos de vida em praças e esquinas, ao lado dos entornos patrimoniais mais destacados do Uruguai, fazem parte do patrimônio montevideano mas não estão escritos nos livros.

Para Lynch, existem elementos que por sua presença em um mesmo lugar fixo passa a ser um marco ou uma referência urbana... e por que não histórica? 

Tal é o caso dos quiosques montevideanos. Um ponto de encontro sendo usado cotidianamente por milhares de pessoas sem nem saber a sua origem, guardando histórias urbanas e humanas. Hoje são apenas 7 os únicos exemplares sobreviventes de uma época, onde ao seu redor seguem passando as notícias do mundo, como fazia um século atrás.

Plaza Independencia

Os montevideanos viram aparecer seus primeiros quiosques urbanos em 1912. A cidade contava com 320 mil habitantes e o país se aproximava dos 1 milhão e meio. A plena Belle Époque trazia ao Uruguai mais pianos para as moças de sociedade do que máquinas agrícolas. O primeiro Intendente da capital, Dr. Daniel Muñoz, fundador do diário "La Razón", escritor, jornalista, ministro de Relações Exteriores e diplomata, era um dos rioplatensenses obcecados por fazer "pequenas Parises" nas "grandes aldeias" uruguaias.

Durante seu mandato de 1909 a 1910, surgiu a ideia de se criar estes quiosques para a venda de cigarros, fósforos, jornais e algo mais. Tudo isso teria um contexto e a mesma imprensa responsável pelo folhetins vendidos tornaria-se um eco da novidade.

Parque Urbano, foto capturada durante um desfile de carnaval. A sociedade montevideana desfrutava de sua Belle Époque. 

Em 8 de Fevereiro de 1911, o decreto da Junta econômico-administrativa de Montevidéu aprovava a instalação dos quiosques: "...Os quiosques serão construídos pela Junta, arrendando-os à pessoas inválidas que não podem ganhar a vida de outra forma..." (tradução livre). O decreto de 19 de Fevereiro de 1911 dita os benefícios: "... Porque seu funcionamento favorecerá imensamente ao público que encontrará a venda a todas as horas, nos lugares determinados, jornais e revistas nacionais e estrangeiras...". "...Remover de uma vez por todas a venda de jornais por menores de idade (...) com evidente prejuízo para a moral atual (...) e acabar com o abuso que os pais e tutores fazem à eles." (tradução livre).

Dr. Daniel Muñoz
Os dados da Compilação de Leis e Decretos 1825-1930 da Junta Departamental indica que: "Datado de 19 de Março de 1911, a direção de obras Municipais retorna o assunto e eleva o modelo de quiosques para venda de periódicos nas praças e vias públicas da cidade, formulado pela seção de Arquitetura, a qual manifesta que neste projeto pressupõe a construção em ferro, por ser esse material de maior duração e mais fácil conservação. (...) As colunas que constituem o principal da estrutura dos quiosques serão de fundição, a parte inferior completa de felastro e as ménsulas de ferro forjado. O telhado será de zinco com armadura de ferro e as persianas de madeira removível." (tradução livre).

Evidentemente havia um critério e uma referência ao que se queria colocar na rua, mas sem nome, marca, fabricante ou outro referente no qual se baseava essa descrição.

Cúpula
O desenhista de 1913 foi o então jovem arquiteto Eugenio P. Baroffio (1877-1956). Falar do arq. Baroffio é destacar um grande profissional que foi a mudança de Montevidéu nos 30 primeiros anos de vida do século XX. Ele teve o mérito de ser o primeiro arquiteto municipal e logo em seguida, o primeiro Diretor da Oficina de Arquitetura Municipal.

O corpo desenhado por Eugenio Baroffio é composto por colunas de ferro com detalhes nas molduras e capitéis. Chapas de ferro na parte inferior e que ainda mantem seus apliques e traços moldurados em ferro fundido  até hoje, formando retângulos e vidros duplos no setor de vendas na parte superior. Há uma borda intermediária, aos moldes de uma estante e que foi modificada com os anos, sustentando  salientes janelas compostas pelos artigos que estão à venda, totalmente integrados ao desenho modular. 

Os corpos são facetados por 8 lados de 75 cm, finalizados em uma cúpula muito particular, que se divide em segmentos e que tem folhas estampadas em sua superfície - como a copa de uma árvore. São amarradas com uma peça em ferro fundido, tal como uma garra que une cada lado dessa cúpula. Como arremate superior - uma espécie de coroamento - surge um ponteiro de 30 cm que sofreu mudança de estilo e desenho nos atuais 7 quiosques sobreviventes.

Arq. Eugenio Baroffio
O fechamento dos vidros se realizava com chapas planas e posteriormente com cortinas de chapa de metal pregadas em ondas que se uniam pelos rolos e se abriam ao exterior. A entrada é por uma pequena porta em uma das faces do pavilhão, abaixo do display. Um acesso difícil para um inválido como planejava a Junta, bem como é agora para qualquer usuário.

Em uma época de Art Nouveau e Neoclassismo inscritos em ferro fundido não é difícil pressupor que a cúpula estampada de folhas seguramente teve um molde de fundição e um bom artesão por trás de sua criação. Muitos dos grandes edifícios das novas cidades (estações de trem, mercados agrícolas) vinham pré fabricados da Europa, correspondendo perfeitamente às pautas tecnológicas, estilísticas e culturais de seu tempo. Nessa mesma época, Baroffio desenhou planos para usos diversos dos quiosques. Além disso, existe um manual de especificações claras das características e tratamentos que deveriam ser aplicados em cada parte do quiosque, incluindo número e tom das tintas à serem empregadas.

A largura interior é de 1,80 m com uma altura total de 5,50 m e área interna de 2 m².

No começo estes quiosques não tinham luz, apenas lamparinas interiores. Logo foi incorporada a luz elétrica e instalados braços metálicos curvos em cada beiral com uma esfera de cristal branca que ainda se mantém em quase todos eles. Em seguida, apareceram os toldos para o verão e atualmente são beirais fixos de chapa pintada, o que modificou seu aspecto original.


A localização inicial ainda se mantem para os últimos representantes: o primeiro na Plaza Constitución, dois na Plaza Independencia, dois na Plaza Cagancha, dois na Plaza Artola (hoje praça De los Treinta y Tres) e um na esquina da Ejido com 18 de Julio. Apesar das controvérsias, cerca de 20 quiosques existiram na cidade, nem todos destinados ao seu propósito original, como o da Plaza Constitución que serviu de oficina para os primeiros taxis de 1912.

Os quiosques são propriedade da Intendência e usufruídos por particulares na qualidade de permissionários. Esse sistema vem sido mantido desde a sua criação há um século. No começo deveriam estar abertos 8 horas por dia mas hoje alguns trabalham 24 horas com 8 empregados e turnos de duas pessoas. Por isso os quiosques são um termômetro da atividade comercial no centro, ele pode indicar se há dinheiro no mês ou se o montevideano não anda bem.

Plaza Constitución

Plaza de Cagancha em 1940 e seu quiosque

As praças que os contém são declaradas Monumento Histórico Nacional desde 1975 e consideradas praças patrimoniais com declaração oficial de igual caráter pela Comissão do Patrimônio da Nação. Infelizmente não são os próprios quiosques mas estão dentro da sua área de influência, assim como a declaração determina com as fontes, colunas e bancos, ainda que tenham sofrido mudanças nesses 100 anos.

Espero que em breve, políticas urbanas possam dar valor à símbolos urbanos. Valor histórico como dizia Aloïs Riegl. Valor que lhe dá o cliente que se aconchega em suas janelas e que recostado lê uma notícia de esporte, compra uma bebida para começar o dia e segue buscando sua desejada fortuna. De tanto vê-los alí, os uruguaios talvez pensem que 100 anos não são nada... nada mais nada menos que a metade da vida de seu país. É por isso que eu desejo que o montevideano se recorde sempre desses singelos quiosques como figura identitária clássica de sua capital e principalmente de sua história.


Fonte:
Mundo Uruguayo
Revista Habitat
Capítulo oriental
La Belle Époque de Ángel Rama


Por Vitor Wilson

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Diário e impressões de uma viagem em arquiteturismo

Carina Folena Cardoso e Isadora Tavares Monteiro, alunas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora participaram da viagem de estudos ao Rio de Janeiro, escrevendo a partir de suas impressões um relato publicado anteriormente aqui no blog e agora também disponível na revista eletrônica Vitruvius.


Mapa do roteiro diurno da primeira parte da viagem de estudos ao Rio de Janeiro, 2012<br />Google Earth, com trabalho gráfico de Carina Cardoso
Mapa do roteiro diurno da primeira parte da viagem de estudos

Veja o texto na íntegra em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/06.070/4625


Por Jéssica Rossone

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