quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Arquitetura Rural mineira


Portugal foi o grande responsável pela cultura arquitetônica no Brasil, principalmente em Minas Gerais influenciou diretamente as primeiras edificações, impondo sua forma de construir, organizar o espaço e o desenho das fachadas. Os portugueses foram os primeiros artesãos, os mestres, os entalhadores, os pintores.

Casario de Tiradentes
Assim como nas cidades, as fazendas também sofreram influências portuguesas. No século, XVIII, no auge da mineração, dava-se o nome de fazendas às grandes propriedades onde trabalhavam e moravam numerosos escravos e seus proprietários, senhores de posses, os chamados mineiros. Neste período a principal atividade era a mineração, não se plantava, nem se criavam animais, tudo era importado do Rio de Janeiro e São Paulo.

Com o esgotamento da exploração de ouro e de pedras preciosas, os fazendeiros necessitaram de outra fonte de renda, a partir disso se voltaram às atividades agrícolas e criação de gado. 

A Fazenda mineira, nos fins do século XVIII e  início do século XIX, não era formada por apenas uma construção isolada. Era composta por várias edificações com diferentes funções, distribuídas ao redor de um pátio central, chamado de terreiro. Essas edificações eram geralmente: a casa do proprietário, o alojamento dos escravos, moinhos de açúcar e de milho, armazéns, oficinas de carpintaria e de ferreiro, queijaria, dentre outros. 

A Casa Grande ficava em local de destaque, como forma de demonstrar o poder do fazendeiro. O espaço aberto que se formava a frente do casarão, permitia ao proprietário avistar todos os edifícios e os trabalhos diários da fazenda. Esse monitoramento era feito do alpendre da Casa Principal.

Fazenda dos Martins. Alvenaria de pedra no térreo. Brumadinho/MG

A arquitetura rural mineira respeitava a declividade do terreno, por causa disso uma parte da edificação ficava sobre a porção superior, e a outra parte se erguia sobre pilares de madeira ou de pedras. Este tipo de solução deu à edificação um aspecto assobradado, em um dos lados, e térreo, do outro.
Desta forma, sobrava um porão na parte inferior do terreno, que era fechado com paredes, ou não, dependendo do seu uso. Do lado assobrado havia escadas, que ficavam na parte frontal ou lateral.
A escada levava a um alpendre, um espaço de recepção, de estar e de vigilância, representava o limite físico e transição entre mundo externo e interno, entre vida social e íntima. 

Fazenda Fonte Limpa , Santana dos Montes/MG. Alpendre com guarda-corpo recortado
O alpendre frontal é um importante elemento de composição de fachada; é o que suaviza o peso das edificações rurais. A zona de estar era completada com a sala principal, onde se faziam as refeições, conversas e onde as mulheres teciam. 

Voltados para a sala encontravam – se os dormitórios. Na área de serviços havia: cozinha, cômodo do forno de barro e despensa. A cozinha ficava sempre nos fundos da casa. Possuía ao centro o fogão a lenha, de alvenaria ou de madeira revestida de barro, sem chaminé, e uma trempe de pedras ou alvenaria. Havia também horta, pomar e jardim, que se encontravam nos fundos da casa.

As fazendas abrigavam capelas, “quartos dos santos” e oratórios. A presença do espaço religioso era importante devido a distância que se encontravam dos centros urbanos, ficando inviável frequentar as missas na cidade. 

O sistema construtivo das fazendas mineiras era, principalmente, a técnica denominada de estrutura autônoma preenchida pela taipa de mão, trazida pelos portugueses. Essa estrutura podia ser de pedra ou de madeira ou combinadas, fazendo com que as paredes, inclusive as externas, não tivessem função estrutural. Mas também havia as paredes somente de pedras que possuíam função estrutural. 

As paredes de taipa de mão erguiam-se sobre vigas baldrames de madeira, apoiadas em esteios ou pilares, também de madeira ou de pedra, que recebiam os esforços do telhado através dos frechais.

O piso teve várias soluções. Nos porões, geralmente, o piso era de terra batida, misturada com sangue de boi para dar liga, alguns eram de pedra. A atividade exercida no porão é que determinava o acabamento da escolha do piso deste cômodo. 

Na parte superior, onde se localizava as salas e os dormitórios, o piso era formado em tabuado corrido de madeira, assentado sobre barrotes dispostos ao longo do baldrame. Já os forros eram feitos em tabuado corrido ou com esteiras de taquara. 

Os forros de esteiras  eram trançados formando desenhos simples ou mais complexos, eram esticados sobre barrotes e acabados com molduras junta à parede. Eram mais utilizados nas áreas de serviço. 

Forro de Taquara
Em relação aos vãos, nos início do século XVIII, as janelas eram simples, com formas retangulares e sem a presença de folhas envidraçadas, apenas com a presença de escuros. Após a segunda metade do século XVIII passaram a ter suas vergas arqueadas, com guilhotinas externas envidraçadas e bandeiras com desenhos elaborados.

Hoje muitas das fazendas mineiras encontram - se em estado ruim, necessitando de trabalhos de conservação e restauro. Algumas estão conservadas e são fontes de história e conhecimento.


Por Carla Bernardes


BENINCASA, Vladimir. Velhas Fazendas: arquitetura e cotidiano nos Campos de Araraquara 1830-1930.

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