Portugal foi o grande responsável pela cultura
arquitetônica no Brasil, principalmente em Minas Gerais influenciou diretamente
as primeiras edificações, impondo sua forma de construir, organizar o espaço e
o desenho das fachadas. Os portugueses foram os primeiros artesãos,
os mestres, os entalhadores, os pintores.
Casario de Tiradentes |
Assim como nas cidades, as fazendas também sofreram
influências portuguesas. No século, XVIII, no auge da mineração, dava-se o nome
de fazendas às grandes propriedades onde trabalhavam e moravam numerosos
escravos e seus proprietários, senhores de posses, os chamados mineiros. Neste
período a principal atividade era a mineração, não se plantava, nem se criavam
animais, tudo era importado do Rio de Janeiro e São Paulo.
Com o esgotamento da exploração de ouro e de pedras
preciosas, os fazendeiros necessitaram de outra fonte de renda, a partir disso
se voltaram às atividades agrícolas e criação de gado.
A Fazenda mineira, nos fins do século XVIII e início do século XIX, não era formada por
apenas uma construção isolada. Era composta por várias edificações com
diferentes funções, distribuídas ao redor de um pátio central, chamado de terreiro.
Essas edificações eram geralmente: a casa do proprietário, o alojamento dos
escravos, moinhos de açúcar e de milho, armazéns, oficinas de carpintaria e de
ferreiro, queijaria, dentre outros.
A Casa Grande ficava em local de destaque, como
forma de demonstrar o poder do fazendeiro. O espaço aberto que se formava a
frente do casarão, permitia ao proprietário avistar todos os edifícios e os
trabalhos diários da fazenda. Esse monitoramento era feito do alpendre da Casa
Principal.
Fazenda dos Martins. Alvenaria de pedra no térreo. Brumadinho/MG |
A arquitetura rural
mineira respeitava a declividade do terreno, por causa disso uma parte da
edificação ficava sobre a porção superior, e a outra parte se erguia sobre
pilares de madeira ou de pedras. Este tipo de solução deu à edificação um
aspecto assobradado, em um dos lados, e térreo, do outro.
Desta forma, sobrava um
porão na parte inferior do terreno, que era fechado com paredes, ou não,
dependendo do seu uso. Do lado assobrado havia escadas, que ficavam na parte
frontal ou lateral.
A escada levava a um alpendre, um espaço de recepção,
de estar e de vigilância, representava o limite físico e transição entre mundo
externo e interno, entre vida social e íntima.
Fazenda Fonte Limpa , Santana dos Montes/MG. Alpendre com guarda-corpo recortado |
O alpendre frontal é um importante elemento de
composição de fachada; é o que suaviza o peso das edificações rurais. A zona de
estar era completada com a sala principal, onde se faziam as refeições,
conversas e onde as mulheres teciam.
Voltados para a sala encontravam – se os
dormitórios. Na área de serviços havia: cozinha, cômodo do forno de barro e
despensa. A cozinha ficava sempre nos fundos da casa. Possuía ao centro o fogão
a lenha, de alvenaria ou de madeira revestida de barro, sem chaminé, e uma
trempe de pedras ou alvenaria. Havia também horta, pomar e jardim, que se
encontravam nos fundos da casa.
As fazendas abrigavam capelas, “quartos dos santos”
e oratórios. A presença do espaço religioso era importante devido a distância
que se encontravam dos centros urbanos, ficando inviável frequentar as missas
na cidade.
O sistema construtivo
das fazendas mineiras era, principalmente, a técnica denominada de estrutura
autônoma preenchida pela taipa de mão, trazida pelos portugueses. Essa estrutura podia
ser de pedra ou de madeira ou combinadas, fazendo com que as paredes, inclusive
as externas, não tivessem função estrutural. Mas também havia as paredes
somente de pedras que possuíam função estrutural.
As paredes de taipa de
mão erguiam-se sobre vigas baldrames de madeira, apoiadas em esteios ou pilares, também de madeira ou de pedra, que
recebiam os esforços do telhado através dos frechais.
O piso teve várias
soluções. Nos porões, geralmente, o piso era de terra batida, misturada com
sangue de boi para dar liga, alguns eram de pedra. A atividade exercida no
porão é que determinava o acabamento da escolha do piso deste cômodo.
Na parte superior,
onde se localizava as salas e os dormitórios, o piso era formado em tabuado
corrido de madeira, assentado sobre barrotes dispostos ao longo do baldrame. Já
os forros eram feitos em tabuado corrido ou com esteiras de taquara.
Os forros de esteiras eram trançados formando desenhos simples ou
mais complexos, eram esticados sobre barrotes e acabados com molduras junta à
parede. Eram mais
utilizados nas áreas de serviço.
Forro de Taquara |
Em relação aos vãos,
nos início do século XVIII, as janelas eram simples, com formas retangulares e
sem a presença de folhas envidraçadas, apenas com a presença de escuros. Após
a segunda metade do século XVIII passaram a ter suas vergas arqueadas, com
guilhotinas externas envidraçadas e bandeiras com desenhos elaborados.
Hoje muitas das
fazendas mineiras encontram - se em estado ruim, necessitando de trabalhos de
conservação e restauro. Algumas estão conservadas e são fontes de história e conhecimento.
Por Carla Bernardes
BENINCASA, Vladimir. Velhas Fazendas: arquitetura e cotidiano nos Campos de Araraquara 1830-1930.