Para
isso serão tomados como referências grandes pensadores sobre o tema, são eles:
Viollet-Le-Duc, John
Ruskin, Camillo Boito, Alois Riegel e Cesari Brandi.
Nomes de grande relevância para o estudo do tema e que suscitam discussões até os dias atuais, devido às contradições de pensamentos e opiniões acerca da intervenção em monumentos históricos.
Iniciarei com Eugéne Emmanuel Viollet-Le-Duc: arquiteto, escritor, diretor de canteiros de obras, desenhista e um dos primeiros a abordar questões referentes à Restauração. Questões estas que provocaram e ainda provocam muitas polêmicas, principalmente devido ao seu modo de pensar e agir quando da intervenção em determinado edifício de importância histórica.
"RESTAURAÇÃO:
A palavra e o assunto são modernos. Restaurar um edifício não é mantê-lo,
repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter
existido nunca em um dado momento." Viollet-Le-Duc-
Verbete: Restauração. p.29
Esta
citação inicia o texto "Verbete: Restauração", pertencente ao próprio Le-Duc e constitui a base de seu pensamento.
Nascido
em Paris, em 1814, sofreu grande influência dos acontecimentos ocorridos na
Europa, dentre eles: a Revolução Francesa, o Iluminismo e a Revolução Industrial.
De
pensamento extremamente racionalista e por muitos considerado “Arauto do
Movimento Moderno", era totalmente contrário ao ornamento e às arquiteturas que estavam sendo produzidas no início do século XIX. Segundo ele, verdadeiras cópias,
com desenhos e formas sem nenhuma justificativa para aplicação daqueles elementos:
"A arquitetura oficial seguia uma estética dita acadêmica, de derivação clássica, mas que comportava múltiplas faces, com diversas correntes, tais como neopalladianas e as neogregas." Beatriz Mugayar Kuhll - Restauração. p.11
Acreditava
que os monumentos arquitetônicos deveriam ser como verdadeiros sistemas, que
todo elemento que o constituía possuía uma função distinta e se
o edifício perdesse qualquer uma destas partes não havia como funcionar
completamente.
Esse
seu modo de pensar foi resultado, principalmente, de estudos sobre a Arquitetura Gótica, até então desconsiderada.
Segundo ele, nessas construções, todos os elementos possuem alguma função. Não apresentando partes desnecessárias, supérfluas.
" ...a arquitetura gótica se revestia de um caráter nacionalista, em que se buscavam novos caminhos para a produção arquitetônica e em que a restauração se estava estabelecendo como uma ciência que Viollet-Le-Duc se formou..." Beatriz Mugayar Kuhl - Restauração. p.11
" Dentro do universo da arquitetura gótica, concebe um sistema ideal de correspondência entre forma, estrutura e função, formando um sistema lógico, perfeito e fechado em si. Essa sua tendência de encarar um dado objeto segundo uma concepção idealizada se verifica também na restauração." Beatriz Mugayar Kuhl - Restauração. p.17
Esse seu modo de pensar, contribuiu fortemente para a sua forma de intervenção em monumentos históricos. Seu foco principal era a recuperação da Unidade de Estilo, ou seja, a recuperação do edifício como um todo.
Sua teoria, portanto, ficou conhecida como “TEORIA DO RESTAURO
ESTILÍSTICO”, segundo a qual, cada elemento arquitetônico se subordina ao conjunto,
contribuindo para a unidade do edifício.
Este método utilizado por Le-Duc é por muitos associado à Teoria de Georges Couvier, naturalista
e paleontólogo. Este acreditava que através de apenas um osso se
conseguiria reconstituir todo um esqueleto. Le-Duc utilizava-se do mesmo preceito,
acreditando que a partir de apenas um perfil do edifício,
conseguiria reconstituí-lo completamente.
Estudava
a fundo todo monumento que lhe era confiado, de modo a não intervir hipoteticamente. Realizava levantamentos detalhados, utilizando-se de textos, fotografias e desenhos, procurando entender a lógica da concepção do projeto.
Analisava
edifícios do mesmo período de construção, a técnica que fora utilizada, as
formas características, as linguagens; buscando sempre um coeficiente comum que lhe fornecesse conclusões para a
recuperação do monumento em questão.
Apesar desta técnica(o estudo exaustivo do monumento) ter sido uma grande
contribuição deixada por Le-Duc, para os estudos e técnicas de preservação,
suas intervenções eram muitas vezes incisivas.
Na
maioria das vezes acabava entrando no campo da criação, supondo elementos que
talvez nunca vieram a existir naquele edifício. Tentava chegar a uma reformulação ideal de um determinado projeto.
Algumas vezes alterava partes autenticas do edifício porque as considerava em mau estado, em vários exemplos não respeitou modificações feitas posteriormente.
Seu
modo de agir justifica suas palavras citadas no início deste texto:
’’... é
restabelecê-lo (o edifício) em um estado completo
que pode não ter existido nunca em um dado momento.” Viollet-Le-Duc-Verbete:
Restauração
Este seu método de agir e pensar, muitas vezes, desprezava a
singularidade de cada obra e do próprio autor e principalmente a autenticidade da mesma.
Além disso, seus princípios teóricos foram relegados ao ostracismo durante um longo período.
Porém, é importante ressaltar que o início do século XIX foi uma época de apreciação e de uma nova descoberta da arquitetura gótica e que Viollet-Le-Duc teve um papel fundamental no estudo e difusão acerca das primeiras tentativas de restauração.
Exemplos de Atuação:
Fonte: Wikipedia.org |
Igreja de Saint - Sernin
As intervenções se iniciaram em meados do século XIX, havendo muitas mudanças. A mais notável foi a supressão de adições góticas a fim de se obter um românico puro. Localiza-se em Toulouse - França. Foi consagrada em 1096 pelo papa Urbano II e elevada à categoria de Basílica em 1878.
Fonte: Aula de Técnicas Retrospectivas - A Preservação dos Monumentos Históricos - ANTES |
Fonte: Aula de Técnicas Retrospectivas - A Preservação dos Monumentos Históricos - DEPOIS |
Igreja de Vézelay
Sua restauração foi iniciada em 1840. Mosteiro Beneditino localizado na cidade de Vézelay - França. É patrimônio Mundial da UNESCO desde 1979.
Fonte: Wikipedia.org - ANTES
Fonte: Wikipedia.org - DEPOIS Castelo de Pierrefonds
Palácio fortificado, localizado em Pierrefonds, no Sudeste da Floresta Comiégne, a Norte de Paris - França. Classificado como Monumento Histórico desde 1848.
Referências Bibliográficas:
Restauração - Apresentação e Tradução - Beatriz Mugayar Kull
Verbete: Restauração - Eugéne EmmanueL Viollet-Le-Duc
Notas de Aula: Técnicas Retrospectivas - A Preservação dos Monumentos Históricos - Prof. Mst. Mônica Olender
Por Carla Bernardes
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