terça-feira, 29 de maio de 2012

Deixe que digam. Que pensem, que falem


Assim como o cinema, o teatro e a música, a arquitetura se alimenta da crítica. Há, entretanto, quem enxergue falta de ética quando um projeto é analisado por outro profissional. O THAU DO BLOG traz a discussão: o que deve ser considerado relevante como crítica arquitetônica? Acadêmicos ou projetistas devem ser considerados críticos? Pessoas que são formadas em outras áreas ou áreas afins merecem credibilidade no âmbito da crítica de arquitetura? E a crítica informal, de que forma deve ser enfrentada?
Por mais que o profissional seja renomado e seus projetos sejam os melhores, será que sua crítica deve ser tomada como direção, será que não devemos cobrar que haja imparcialidade?

"É quase uma praxe iniciar um estudo de crítica ou de história da arquitetura com uma censura ao público. Dezenove livros em cada vinte dentre os citados na bibliografia começam com diatribes  e apologias." Bruno Zevi, no livro Saber Ver a Arquitetura

Trazemos abaixo trechos de duas entrevistas publicadas no site PiniWeb e Revista aU.

Qual é a sua opnião sobre a crítica de arquitetura?*

Conheça a opinião de Oscar Niemeyer, Sérgio Teperman, Carlos Eduardo Comas e Milton Braga.

"Eu sou a favor, claro. Crítica é avaliação e nenhum produto cultural está acima de avaliação. Arquitetura não é diferente de literatura, teatro ou cinema. Essa é uma não-questão. Dizer que a crítica de arquitetura é algo antiético é confundir as bolas, preferir a censura ao debate e ao esclarecimento. Claro que podem existir críticas mal-intencionadas ou malévolas - mas muitos anos de história mostram que essas geralmente saem pela culatra. Aliás, um indício do prestígio social da profissão é ter colunistas de arquitetura nos jornais, a exemplo do periódico Clarín, de Buenos Aires."
Carlos Eduardo Comas
 
"Seria saudável se houvesse mais crítica de arquitetura no Brasil. Nos últimos anos, esse cenário vem mudando com o surgimento de profissionais que se dedicam a isso. São pessoas especializadas que fazem uma atividade reflexiva - alguns são arquitetos, outros filósofos, mas são dedicados, estudam arquitetura e são preparados para tal atividade. E é importante que a façam para pautar a opinião pública, para esclarecer e fazer diferença entre o que o mercado considera arquitetura bem-feita e o que vai além disso. Arquitetos que praticam o projeto podem, evidentemente, fazer crítica também, mas quando quem faz a crítica não é instrumentado para tal, pode resultar um trabalho muito opinativo. A crítica feita por quem não tem preparo pode ser desastrada."
 Milton Braga

"Crítica não é ofensa, se for feita por profissionais qualificados e bem-intencionados. Por outro lado, uma crítica de arquitetura não é necessariamente negativa, uma crítica pode ser um elogio. Entendo que é mais fácil fazer crítica quando somos atuantes na área de projetos. É como os técnicos de futebol: os bons são ex-jogadores, mesmo que maus jogadores. Todos nós fazemos bons, médios e maus projetos, estes, ainda que bem-intencionados, às vezes apresentam maus resultados. Quem sai na chuva é para se queimar. Portanto, não existem profissionais perfeitos, idolatrados, que não possam ser criticados e o corporativismo neste caso é detestável. E, finalmente, para as revistas de arquitetura, críticas de projetos não são simples descrições ou memoriais descritivos."
Sérgio Teperman

"A arquitetura, boa ou má, representa sempre um momento de procura e esperança profissional quando um arquiteto a elabora. E isso, a meu ver, deve ser respeitado. Criticar um colega é para mim pretensão e mediocridade."
Oscar Niemeyer
*Trechos extraídos do site PiniWeb.
**Trechos extraídos da Revista aU.

Mas afinal, o que é crítica de arquitetura?**


Segundo Roberto Segre, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro todos os jornais do Brasil têm suplemento semanal de crítica sobre diferentes manifestações artísticas, com exceção da arquitetura - é sintomática sua ausência como expressão cultural da vida cotidiana da comunidade, em relação aos prédios ruins onde habita a maioria das pessoas, e aos graves problemas urbanísticos de nossas cidades. A arquitetura só marca presença nos panegíricos aos grandes Mestres feitos em ocasiões comemorativas. 
Para ele, a função da crítica de arquitetura é justamente criar a consciência social do valor que a nossa disciplina tem como expressão cultural e, é um erro valorizar como críticos as pessoas que se destacam como bons acadêmicos ou como bons arquitetos, mas não como críticos. No trecho abaixo, publicado na revista AU, Segre argumenta sua afirmação: 

"No Brasil, Josep Maria Montaner reitera a importância dos críticos tradicionais, mas não compreende que é maior a transcendência de jovens como Otávio Leonidio quando escreve na revista Mais!; ou Fernando Serapião, com suas inéditas revelações publicadas na revista Piauí; além da fina ironia crítica do Blog do Alencastro. São eles os que formam a opinião na cultura social arquitetônica e não os livros especializados. Não podemos nos esquecer do papel incentivador da crítica. O grande acadêmico e arquiteto italiano Bruno Zevi ficou famoso pelos seus ácidos artigos semanais no L´Espresso de Roma. Isso é o que necessitamos ter no Brasil."

Para Edson Mahfuz, arquiteto e professor titular do departamento de arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, todo juízo sobre uma obra de arquitetura é crítica, positiva ou negativa, justificada ou não, enunciada na mesa de bar como publicada em boletim de supermercado, revista especializada de grande difusão ou livro da mais sofisticada coleção de editora prestigiosa. Segundo ele, independentemente do veículo, o que interessa é a crítica fundamentada, baseada em argumentação plausível, implicando conhecimento da obra e seu contexto, amor à arte e um mínimo de cultura disciplinar.  


Por Jéssica Rossone

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