Atualmente, existem milhares de imóveis abandonados nas grandes metrópoles. Dados de pesquisas indicam que a quantidade de imóveis desocupados e, em muitas vezes, em estado precário, de toda a cidade de São Paulo seria capaz de extinguir o déficit habitacional de toda a cidade. Enquanto isso, no Rio de Janeiro imóveis que eram para ser preservados caem por falta de recursos para conservação.
Vale lembrar que existem milhares de cidadãos à procura de moradia digna nas grandes cidades. E as favelas, que eram somente um local de passagem nas décadas de 1950 a 1980, hoje reúnem várias gerações. Seus moradores criaram de alguma forma uma relação de identidade com estes lugares e, muitas vezes, recusam deixá-los.
De frente a esta problemática, unimos dois pontos importantes na formação do arquiteto urbanista: a conservação do patrimônio cultural e o planejamento das cidades.
Este antagonismo entre as atividades da razão e as da arte talvez possa se dissolver no âmbito arquitetônico e ser transformado numa espécie de cooperação entre um lado e outro. A preservação e a ruína se encontram aqui num mesmo lugar e talvez possam conversar muito bem.
É verdade, a primeira responsabilidade pela conservação do imóvel é do proprietário. Mas, o que há, em várias cidades, é um enorme número de imóveis privados e públicos abandonados, sem manutenção e nem sequer função, e que poderiam servir para a criação de uma política municipal de habitação social, por exemplo. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife.
Infelizmente as políticas públicas não avançam neste aspecto, e a legislação muitas vezes obsoleta, se deixa driblar pelos intentos do novo mercado imobiliário brasileiro, que avança com tanta rapidez.
Discorrendo sobre outros pontos, poderíamos citar a interferência na paisagem urbana que o tratamento destes imóveis poderia causar. Olhar para a cidade pode dar um prazer especial, por mais comum que ela seja.
Fachada do casario antigo da Rua Primeiro de Março, região central da cidade do Rio de Janeiro
|
Porém, não somos somente observadores da cidade, fazemos parte dela. E independente de nossa função na sociedade, também somos responsáveis por cada forma que urbe toma com o passar dos dias. E independente do conceito de patrimônio, temos diante de nós todos os dias algo maior, algo que depende de tempo para ser absorvido e não consiste somente em um rito passagem ou observação, mas sim em um significado e em uma identidade que difere de cidadão para cidadão. E isto se chama cidade, o maior patrimônio do cidadão.
Por Jéssica Rossone