quarta-feira, 23 de maio de 2012

A alegoria do nosso maior patrimônio, a cidade

Atualmente, existem milhares de imóveis abandonados nas grandes metrópoles. Dados de pesquisas indicam que a quantidade de imóveis desocupados e, em muitas vezes, em estado precário, de toda a cidade de São Paulo seria capaz de extinguir o déficit habitacional de toda a cidade. Enquanto isso, no Rio de Janeiro imóveis que eram para ser preservados caem por falta de recursos para conservação.
Prédio público do Rio de Janeiro  desaba. Data: 15 de maio de 2012

Vale lembrar que existem milhares de cidadãos à procura de moradia digna nas grandes cidades. E as favelas, que eram somente um local de passagem nas décadas de 1950 a 1980, hoje reúnem várias gerações. Seus moradores criaram de alguma forma uma relação de identidade com estes lugares e, muitas vezes, recusam deixá-los.
De frente a esta problemática, unimos dois pontos importantes na formação do arquiteto urbanista: a conservação do patrimônio cultural e o planejamento das cidades.
Este antagonismo entre as atividades da razão e as da arte talvez possa se dissolver no âmbito arquitetônico e ser transformado numa espécie de cooperação entre um lado e outro. A preservação e a ruína se encontram aqui num mesmo lugar e talvez possam conversar muito bem.
É verdade, a primeira responsabilidade pela conservação do imóvel é do proprietário. Mas, o que há, em várias cidades, é um enorme número de imóveis privados e públicos abandonados, sem manutenção e nem sequer função, e que poderiam servir para a criação de uma política municipal de habitação social, por exemplo. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife.
Infelizmente as políticas públicas não avançam neste aspecto, e a legislação muitas vezes obsoleta, se deixa driblar pelos intentos do novo mercado imobiliário brasileiro, que avança com tanta rapidez.
Discorrendo sobre outros pontos, poderíamos citar a interferência na paisagem urbana que o tratamento destes imóveis poderia causar. Olhar para a cidade pode dar um prazer especial, por mais comum que ela seja.
Fachada do casario antigo da Rua Primeiro de Março, região central da cidade do Rio de Janeiro
Porém, não somos somente observadores da cidade, fazemos parte dela. E independente de nossa função na sociedade, também somos responsáveis por cada forma que urbe toma com o passar dos dias. E independente do conceito de patrimônio, temos diante de nós todos os dias algo maior, algo que depende de tempo para ser absorvido e não consiste somente em um rito passagem ou observação, mas sim em um significado e em uma identidade que difere de cidadão para cidadão. E isto se chama cidade, o maior patrimônio do cidadão.


Por Jéssica Rossone

Busca

    Visualizações da página

    Translate