A arquitetura e a concepção da manutenção da saúde, assim como os demais campos da sociedade se modificaram de forma vertiginosa com os atuais avanços tecnológicos, principalmente no século XX e XXI. A forma de se produzir espaços hospitalares mudou, atualmente a assistência de saúde busca a manutenção da mesma e o caráter curativo foi se especializando nos sistemas secundários e terciários de atenção à saúde. O hospital como um lugar de morte mudou, atualmente o hospital é um espaço de manutenção e reestabelecimento da vida saudável.
Ao longo dos anos, os hospitais
são caracterizados funcionalmente e espacialmente através do contexto político
de suas épocas e os avanços da ciência na área medicinal. As características dos
edifícios de saúde são reflexos destes processos tecnológicos e a forma de
pensar da sociedade.
As tipologias destas edificações foram se
modificando ao longo dos tempos: 1) na Antiguidade predominavam Pórticos e
Templos; 2) na Idade Média, as Naves; 3) na Renascença, a cruz e o claustro; 4)
na Era Industrial, dominavam os Pavilhões e na 5) Pré-Contemporânea, os
Blocos. Isto está explicitado na imagem a seguir:
Desenho esquemático da evolução das formas hospitalares - MIQUELIN - 1992 |
Na antiga Grécia, graças a médicos
como Hipócrates, foi possível racionalizar e cientificar a medicina. Mas o
racionalismo científico convivia com o misticismo e superstição. No entanto
havia avanços para a época, onde ocorria uma grande atenção ao conforto dos
pacientes. Estes eram alocados juntos às fontes de águas térmicas ao se buscar
espaços agradáveis e com belas paisagens como forma de auxílio à cura. A doença
tratada como algo pleno, somente seria combatida quando a intervenção chegasse ao
corpo e à mente.
No Império Romano surgiu as
Valetudinárias que se tratavam de enfermarias militares que visavam o tratamento
de soldados doentes e se localizavam no interior das fortificações romanas. Através desta tipologia, obtinham-se melhores condições de iluminação e
ventilação naturais dos ambientes internos, pois as Valetudinárias eram constituídas de elementos articulados em
torno de um pátio central que garantia para
todos os quartos o contato com o ambiente exterior. Além disso, esses espaços
eram dispostos em ambos os lados de um
corredor central de distribuição, cuja cobertura permitia ventilação
permanente.
Durante a Idade Média, vários conceitos se
perderam, os hospitais eram comumente associados à ideia de morte, onde a
função primordial seria a reclusão de pessoas adoecidas visando o controle das
doenças, evitando que as mesmas infectassem outras pessoas. Sendo a recuperação
uma busca secundária. Por este motivo, nesta fase pouco se preocupou com o
bem-estar e conforto dos pacientes. Os hospitais imitavam as estruturas góticas
das catedrais através de largas paredes que se assemelhavam às fortificações e
as prisões. As enfermarias eram ambientes insalubres onde a iluminação era
comumente realizada por archotes. Sendo a circulação de ar considerada um forme vetor de
contaminação, as aberturas eram estreitas e dificultavam a iluminação,
torando-os ambientes escuros e insalubres.
No período Gótico, assim como no
Renascimento, os edifícios possuíam plantas determinadas pelas técnicas
construtivas disponíveis até o momento. No período
gótico, a estrutura que prevalecia eram as de suas catedrais, que acabaram
sendo utilizadas também nos hospitais. As janelas, altas e estreitas,
tornavam-se pequenas com relação à grande dimensão do espaço interno e
relacionada às espessuras das paredes, o que impediam que a luz chegasse à
todos os cantos do ambiente, proporcionando assim baixos níveis de iluminação e
elevados contrastes no ambiente interno.
Até este período da história, os edifícios de saúde
não possuíam função de abrigo para os doentes, fazendo com que a linguagem
arquitetônica seguisse os padrões dos demais edifícios institucionais da época.
Apenas a partir do século XVIII, com a mudança do saber médico e o
reconhecimento da doença como fato patológico que as edificações buscaram o
caráter terapêutico, passando a serem vistas como um importante instrumento de
cura e reabilitação. Surgem assim os primeiros projetos hospitalares dedicados
às questões funcionalistas do espaço, que agora assumem nova importância.
A partir deste momento a arquitetura assume o viés
de peça fundamental para a promoção da saúde e cura. Surge a necessidade de
minimizar os efeitos negativos dos antigos espaços hospitalares tornando as
questões funcionais e espaciais mais importantes. Os edifícios hospitalares
passam a ser estruturados segundo forte setorização interna baseado nas tipologias
dos cuidados oferecidos. Assim a salubridade e
conforto ambiental passaram a serem ideias primordiais nos espaços
hospitalares.
Na Inglaterra, Florence Nightingale altera os
princípios de enfermagem, criando a enfermaria Nightingale. Para ela, nos
hospitais a falta de ventilação e iluminação adequadas e a superlotação eram os
principais problemas, os quais ela buscou solucionar na sua enfermaria. A
enfermaria Nightingale tratava-se de um salão longo e estreito, com leitos
dispostos ao longo de suas paredes com muitas janelas que permitiam ventilação
cruzada e intensa iluminação e colocou cozinhas e banheiros arejados nas
extremidades do salão. O pé direito foi reduzido para maior controle da
temperatura. A enfermaria de Nightingale se configurou como a mais popular
forma de produção de enfermarias no fim do século XIX, e na virada do século
XX.
Modelo de enfermaria Nightingale - Hospital de Dona Estefânea |
No século XX, o número de hospitais se expandiu
consideravelmente, agora a população tinha maior confiança nos espaços de saúde
e o modelo pavilhonar vai aos poucos sendo substituído pelos blocos verticais.
Os pacientes passam agora a ficar menos tempo dentro dos hospitais devido aos
novos processos terapêuticos e a evolução das ciências, mas por consequência
uma despreocupação com a humanização. O desenvolvimento das técnicas de
construção também favoreceu a construção dos blocos verticais usando estruturas
metálicas e elevadores aliado ao alto custo que a terra passou a possuir.
A tecnologia alcançada no século XX se reflete
também na medicina e consequentemente em sua estrutura física hospitalar. As
relações de interior e exterior se extinguem causando problemas no tratamento
psicológico anteriormente evidenciado com o contato com a natureza e o
exterior. Na segunda metade do século XX e com o grande nível de especialização
médica, os hospitais passam a ser divididos em setores onde são separadas as
atividades especificas como UTIs, pediatria, centros cirúrgicos e áreas
administrativas.
No Brasil o modelo do bloco vertical se popularizou
durante o modernismo, caracterizado pelo uso de um platô horizontal em sua
base. Arquitetos como Rino Levi e Oscar Niemeyer foram ativos neste processo.
Um exemplo é o Hospital Larragoiti, atual Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro
de 1951.
Hospital Larragoiti |
Atualmente não existe mais uma regra de modelo
formal para as instalações hospitalares, mas um consenso conceitual onde a
humanização e a visão do bem-estar dos pacientes e funcionários são preceitos
norteadores desta nova arquitetura. Portanto as necessidades dos usuários são
levadas em consideração, seu conforto e estadia. Também na atual sociedade
questões como funcionalidade, baixos custos de manutenção, flexibilidade dos
espaços e segurança são ideais indispensáveis na nova arquitetura hospitalar.
Fontes
Fontes
-LUKIANTCHUKI, Marieli Azoia. CARAM, Rosana Maria.
Arquitetura Hospitalar e o Conforto Ambiental: Evolução Histórica e Importância
na Atualidade. USP
-OLIVEIRA, Juliana Simili de. Humanização em
Saúde: arquitetura em enfermarias pediátricas. Dissertação de Mestrado em
Ambiente Construído – UFJF. Juiz de Fora 2012
Por Carlos Eduardo Rocha