Entre os últimos dias 19 e 21 deste mês aconteceu o Seminário "Memória: Patrimônio, Oralidade e Acervo" organizado pela FUNALFA. Você não pode ir?
Aqui você encontra os detalhes sobre este evento que já está na sua 4ª edição, indicando mais sucesso e credibilidade a cada ano. Vamos, pois, ao primeiro dia de evento.
A abertura oficial aconteceu, sem atrasos, às 9hs da quarta-feira, dia 19, e a primeira palestra ficou à cargo da Profª Drª Mirian Hermeto, do núcleo de História Oral da FAFIEH/UFMG.
Em sua fala interdisciplinar porém envolvente nós aprendemos um pouco mais sobre "História Oral e Memória". Com este título, seu texto abarcou a arte do encontro, do reconhecimento: a ciranda da memória.
No poema "Guardar" de Antônio Cícero, a palestrante indicou a sua motivação pela história oral.
"Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar."
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que de um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar."
E em outro poema, agora de Manoel de Barros em "Compêndio para uso dos pássaros", demonstra a importância das coisas simples, imateriais e inexatas dentro da história.
"As coisas que não têm dimensões são muito importantes.
Assim, o pássaro tu-you-you é mais importante por seus
pronomes do que por seu tamanho de crescer.
É no ínfimo que eu vejo a exuberância."
Assim, o pássaro tu-you-you é mais importante por seus
pronomes do que por seu tamanho de crescer.
É no ínfimo que eu vejo a exuberância."
Diante destas reflexões, pudemos perceber que a história oral, seja como técnica, metodologia ou disciplina, é tão importante quanto a análise de documentos e acervos, pois permite que se faça justiça ao passado, por meio de lembranças e narrativas.
Os quarto pilares da história oral sinalizam os produtos das entrevistas e da pesquisa em si. São eles: a experiência, ou seja, o fato que gera a memória; a memória, que é o produto que se precisa ouvir e registrar; a narrativa, fase de comunicação da memória; e a identidade, que pode ser individual ou coletiva, dependendo do caso.
A história oral, atualmente, tem sido encarada principalmente como metodologia de pesquisa, e inclusive, é esta a visão mais acertada da palestrante, que falou também sobre o projeto em história oral e todas suas fases.
Como bibliografia, Mirian Hermeto citou grandes teóricos da história oral como Maurice Halbwachs e Michael Pollack e suas categorias para problematização, além de Ricoeur, com uma frase a qual ela encerrou sua maravilhosa fala:
"[...] re (a) presentar, no duplo sentido do re:
para trás e de novo."
À tarde, a palestra "Digitalização de acervos e as políticas de disponibilização em rede" do Profº. Ms. Pedro de Brito Soares, diretor de Conservação de Documentos do Arquivo Público Mineiro, falou sobre as técnicas utilizadas para a produção e conservação de arquivos digitais.
20 de setembro de 2012
A manhã do segundo dia de evento teve como tema "Memória Afrodescendente de Minas Gerais".
A Profª. Maria Luiza Higino Evaristo juntamente com a Profª Ms. Gilmara Santos Mariosa e a Profª. Ms. Giane Elisa de Almeida compuseram a excelente mesa, que deixou os ouvintes extasiados. Como mediador, tivemos o Profº Drº Ramsés Albertoni Barbosa.
Da esquerda para a direita: Prof. Ramsés, Professoras Luiza, Gilmara e Giane |
A Profª Maria Luiza falou sobre "Cativos e Libertos Irmanados no Rosário", destacando a lenda de Nsª Srª do Rosário.
A Profª Ms. Gilmara falou sobre "Memórias e Representações Sociais de Matriz Africana", que inclusive é o tema de um livro de sua autoria, por fim, a Profª Ms. Giane apresentou sua dissertação de mestrado sobre "Memórias da Educação de Mulheres Negras em Juiz de Fora".
Um fator muito abordado foi a questão das religiões de matriz africana, que permanecem sem seu lugar na sociedade contemporânea, onde ainda temos muitos precoceitos e ignorância.
A três palestrantes tem como preocupação o estudo das matrizes africanas não somente no período da escravidão, mas atentam principalmente para o estudo da pós-escravidão, período o qual ainda é uma incógnita em diversas esferas do saber e que precisa de uma catalogação para que a história não se perca.
As pesquisadores enfatizam ainda a importância da história oral, pois existem poucos documentos que retratam este período.
Sem a história oral não seria possível descobrir, por exemplo, que nos anos 1950/70 em Juiz de Fora, o território urbano consistia no maior conjunto de valores educacionais do que mesmo as escolas e a família das mulheres negras entrevistadas. Ou seja, o convívio dentro da cidade que educava e imprimia os valores.
Na foto, a Profª Ms. Luiza fala sobre Nsª Srª do Rosário |
Infelizmente, descobriu-se nesta pesquisa de Giane Elisa de Almeida que o direito à cidade era negado a estas mulheres nesta época, e que esta é a mais forte memória que trazem para o presente.
Á tarde, o tema "Inventário de Referências Culturais em Ribeirão Preto" abordado pela Drª. Adriana Silva, secretária da cultura da cidade de Ribeirão Preto, interessou muito à esferas públicas próximas e arquitetos e urbanistas presentes, uma vez que um tema bastante falado ultimamente é o Inventário de Referências Culturais da cidade de Juiz de Fora.
Acima, a Drª Adriana Silva apresenta seu trabalho na Secretaria de Cultura de Ribeirão Preto |
Logo após, tivemos também a palestra "Patrimônio Cultural e Planejamento Urbano", ministrada pela Profª Drª Maria Cristina Rocha Simão, diretora de pesquisa, graduação e pós-Graduação do IFMG Campus Ouro Preto.
21 de setembro de 2012
Neste último dia de evento, as palestras aconteceram somente no turno da manhã.
A palestra "Museus e Educação" da Dra. Maria Esther Valente, coordenadora de educação em museus do Museu de Astronomia e Ciências Afins - ICOM-BR (Conselho Internacional de Museus) teve como preocupação principal incitar a valorização dos profissionais dos museus, sob uma nova ótica e também a sua formação, uma vez que constituem um grupo profissional pouco estruturado, nas palavras da palestrante.
Na foto, Drª Maria Esther e Ms. Cícero Antônio na mesa-redonda de encerramento |
A segunda e derradeira palestra do dia "Museus, Patrimônio e Sociedade" ministrada pelo Ms. Cícero Antônio F. de Almeida, coordenador do Patrimônio Museológico – CPMUS- IBRAM / UNIRIO, trouxe uma reflexão quanto a essencialidade da memória na sociologia, como na história e também na neuropsicologia, por exemplo. Foi discutido também o direito à memória e a nova forma dos museus contemporâneos, que agora abrigam também, história oral.
Por Jéssica Rossone