sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Entendendo os pórticos bolonheses


Olá leitores de O THAU DO BLOG, estou mais uma vez aqui para falar de Bolonha, esta cidade que me encanta cada vez mais. Mesmo quando passamos pelas mesmas construções todos os dias, sempre há algo novo a reparar e quando resolvemos mudar o caminho, sempre descobrimos algo super interessante, mas que fica ali um pouco escondido. E hoje eu resolvi falar de um elemento essencial para o entendimento da capital bolonhesa.


Entre os pontos marcantes enquanto cidade, os quais constituem a sua própria identidade e que delineiam o seu perfil entre as cidades italianas, estão os famosos pórticos, que se alongam por 38 quilômetros dentro dos muros, e que narram a história e arquitetura da cidade com o passar dos tempos. Mesmo um turista que chega aqui procurando as Duas Torres com certeza se perde caminhando sob os pórticos e no final, encontrar as Duas Torres acaba sendo uma consequência.

Um pórtico pode ser considerado uma galeria aberta que fica precisamente na parte exterior do térreo de um edifício e que pode ser usada somente para fins decorativos ou não.

Este componente já era utilizado na arquitetura pré-grega, mas somente foi desenvolvido com o seu uso nas civilizações grega e romana. Posteriormente, os pórticos foram muito utilizados nas cidades medievais, no renascimento e na arquitetura neoclássica.




Pórtico da Chiesa di SS. Annunziata, Bolonha


Os pórticos bolonheses

Na Itália, as cidades medievais eram sempre caracterizadas pela construção de pórticos, e alguns deles podem ser encontrados também em cidades como Padova, Florença, Turim e Bolzano. Em outros países como Suíça e Espanha também são encontrados exemplares. Porém, a permanência e utilização dos pórticos de Bolonha se prolonga por mais de 1000 anos e se deve a uma particularidade.

Entre os séculos XI e XII, a falta de controle do espaço público por parte das autoridades italianas permitiu que um grande número de pórticos fossem construídos em áreas públicas, ou seja, o uso privado do espaço público. No final do século XII, o grande desenvolvimento econômico das cidades e o aumento da população fez com que as autoridades proibissem este tipo de invasão do espaço público e alguns edifícios, ou parte deles, foram demolidos.

E é neste ponto da história que se constitui a individualidade de Bolonha. Desde o século XI, já não se construíam pórticos utilizando o espaço público. A partir de então, todos eram construídos em espaço privado, e dia após dia, esta importante mudança se tornou uma regra definida. Porém, no final do século XII, enquanto nas outras cidades era determinado que as pessoas precisavam ser licenciadas para usar o espaço público, a permanência dos pórticos de Bolonha foi definida como obrigatória para todas as ruas onde eles permitiam, além do uso privado, o uso público do espaço.

O uso dos pórticos nesta época ainda pode ser relacionado com o desenvolvimento da cidade com a Alma Mater Studiorum que, entre 1100 e 1200, atraiu um grande número de estudantes para Bolonha a partir de toda a Europa. Isso deu origem a uma habitação padrão para estudantes nos pisos superiores dos edifícios, enquanto lojas e oficinas de artesãos foram localizados no piso térreo Em 1288, a legislação determinava que todas as casas novas deveriam ser construídas com pórticos de 7 pés bolonheses de altura, para permitir a passagem de um homem montado a cavalo. Estas estruturas garantiam o uso público do solo e, apesar da manutenção ser de responsabilidade do proprietário, a construção de um pórtico oferecia a oportunidade de ampliar a metragem quadrada dos pisos superiores.




Pórtico da Via Zamboni, zona universitária de Boonha

Além disso, a comunidade urbana gostou da possibilidade de caminhar na rua protegida do mau tempo e também de trabalhar ao ar livre. Pode-se concluir que os pórticos de Bolonha se perpetuaram porque são úteis em escala pública, e a população encontrou os melhores métodos para utilizá-los.

Hoje, os pórticos de Bolonha são protegidos de acordo com a legislação nacional e regulamentos municipais. Eles são considerados patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.

Arquitetura dos pórticos

Em Bologna encontramos diversos tipos e estilos de pórticos preservados: pórticos de madeira medievais, pórticos estruturais góticos, pórticos renascentistas que estão integrados aos edifícios e os pórticos do século XIX que caracterizam a arquitetura da corte e pórticos dos subúrbios.




Variedade de pórticos nas proximidades do Gueto Hebraico de Bolonha

Os pórticos medievais tem seu maior exemplo no pórtico da Corte Isolani, fachada para a Strada Maggiore. Todo feito em madeira e com cerca de 9 metros de altura, foi construído em 1250 em estilo romanico-gótico e hoje é um dos poucos exemplos da construção civil bolonhesa do século XIII. Outro exemplo é o pórtico do Palazzo del Podestà, localizado na Piazza Maggiore, restaurado por Alfonso Rubbiani em estilo medieval.

Pórtico e fachada da Corte Isolani, Bolonha

A arquitetura renascentista pode ser observada nos vários pórticos da época, como no pórtico da Basilica di San Giacomo Maggiore, na Via Zamboni e em alguns edifícios da Piazza Santo Stefano.


Piazza e Chiesa Santo Stefano, Bolonha


Piazza Santo Stefano, Bolonha



Composições

A composição de pórticos pode criar novos elementos arquitetônicos como os quadripórticos, que são áreas abertas circondadas por pórticos em quatro lados. Na arquitetura romana os quadriportici eram os espaços que ficavam nos bastidores da scena do teatro, abertos aos espectadores durante as pausas. Nas primeiras basílicas cristãs, o quadripórtico é o espaço quadrado ou retangular que precede a entrada ao edifício.

Os quadripórticos são elementos típicos da arquitetura paleocristã, e raramente estão presentes na arquitetura românica, como na basílica de Sant’Ambrogio em Milão e na arquitetura do renascimento, como na Basílica di Santa Maria dei Servi em Bolonha, que se localiza na Strada Maggiore.




Quadriportico da Basílica di San’Ambrogio em Milão

Curiosidades

Além de se tornarem uma singularidade urbana, os pórticos assumiram em alguns casos significado religioso e social.

Desde o século XII , o povo de Bolonha subia em peregrinação a colina chamada Monte della Guardia para chegar ao Santuário da Maddona di San Lucca.

No final do século XVII, um longo pórtico de 3,5 quilômetros e 666 arcos foi construído graças às contribuições fornecidas por todos os cidadãos para abrigar os peregrinos durante a subida. Este pórtico é o maior em extensão e permanece como o símbolo do espírito cívico e religioso do povo de Bolonha. Um patamar semelhante pode ser encontrado no lado oposto da cidade, ligando o centro da cidade até a igreja Santa Maria Lacrimosa degli Alemanni.



Pórtico para subir até ao Santuário della Madonna di San Lucca, Bolonha

Na segunda metade do século XVI surgem algumas das mais importantes galerias abertas de Bolonha: o pórtico que sustenta e esconde a igreja de San Bartolomeo e Gaetano atrás das Duas Torres, projetado por Andrea da Formigine e a galeria do Palazzo del Monte, na via Galliera.


Pórtico da igreja de San Bartolomeo e Gaetano, Bolonha

Projetado no fim do século XIV, o pórtico da Basílica di Santa Maria dei Servi é o mais largo da cidade. O projeto é atribuído ao arquiteto Antonio di Vincenzo. A construção iniciou-se em 1393 e concluiu-se em 1855, com o quadripórtico na fachada.



Quadripórtico da igreja de Santa Maria dei Servi, Bolonha


O pórtico mais estreito tem apenas 95 centímetros de largura e se encontra na Via Senzanome.
Existem também pórticos decorados com afrescos. São os casos do pórtico do edifício do Banco D’Italia, localizado na Piazza Cavour, e muitos outros.



Pórtico do edifício do Banco D’Italia, Bolonha

Caminhando por Bolonha, é impossível não reparar como este elemento tem um papel fundamental na composição arquitetônica e cultural da cidade. Esta singularidade urbana e, ao mesmo tempo, a pluralidade de estilos oferecem ao observador uma grande enciclopédia, senão um museu ao ar livre sobre pórticos e suas mais variadas leituras e releituras.

Referências:
Immagina Bologna - www.immaginabologna.it



Por Jéssica Rossone

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