quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Relatos de um seminário: sociedade inclusiva e desenho universal

As secretarias de Transporte e Trânsito e de Assistência Social da Prefeitura de Juiz de Fora ofereceram, na última semana, novos cursos de capacitação: “Técnicos e Agentes Sociais em Acessibilidade”, “Sem Barreiras - Qualidade no Atendimento às Pessoas com deficiência” e “Acessibilidade pelo Design Universal”.

Os palestrantes dos cursos foram Amanda Oliveira Gonçalves e Odirlei Roque de Faria, da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida - SMPED-São Paulo e Marcelo Pinto Guimarães, Ph.D. em Design Universal nos EUA (NCSU), coordenador do Laboratório Adaptse e professor de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais.

A iniciativa incluiu ainda o "Seminário Acessibilidade: Espaço, Comunicação e Trabalho" que aconteceu nos dias 26 e 27 de novembro, no Victory Business Hotel. 

O evento teve como público-alvo servidores públicos em geral; gestores de empresa e de recursos humanos, arquitetos, engenheiros civis e demais profissionais da construção civil; pessoas com deficiência e estudantes de áreas afins e, para garantir a participação de todos neste evento, a organização ofereceu o apoio de intérpretes de leitura labial, libras, e de libras/tátil (para pessoas com deficiência auditiva e visual).
A abertura no dia 26 de novembro ás 19 horas contou com a presença de todos da comissão organizadora. Segundo o secretário da Settra, Márcio Bastos, os arquitetos tem especial responsabilidade no processo para que a sociedade recupere o tempo e o espaço perdido acerca da acessibilidade. Ele ainda fez um apelo às faculdades de arquitetura para que não percam a visão de projetas espaços acessíveis, e assim, uma sociedade mais inclusiva. Segundo ele, "os profissionais mais à frente tem a responsabilidade de incluir os mais novos nesse processo."

Abertura oficial do evento com mesa composta pelos organizadores

Secretário da Settra fala sobre o papel dos arquitetos para uma sociedade inclusiva

A palestra “Acessibilidade Universal Numa Sociedade Inclusiva”, ministrada pelo Prof. Dr. Marcelo Pinto Guimarães, coordenador do Laboratório Adaptese/UFMG, deu início às atividades.

Na foto, Prof. Dr. Marcelo fala sobre as perspectivas
 para o futuro acerca da acessibilidade

O que nós queremos para o futuro? Será que nós conseguiremos?

Instigando os ouvintes, assim o Prof. Dr. Marcelo Guimarães iniciou dessa forma a sua palestra. Falou sobre os conceitos de sustentabilidade e diversidade, relacionando-os entre si e trazendo uma nova maneira de pensar as duas coisas juntas. A necessidade de inovar e evoluir esteve presente durante toda sua fala, porém a crítica a sociedade tecnológica foi enfática e muito discutida.

No segundo dia de evento, 27, tivemos a palestra “Acessibilidade e Comunicação”, por Fludualdo Tales, Professor da rede municipal e consultor da Câmara Municipal de Juiz de Fora, Rodrigo Geraldo Mendes, Cordenador do Curso de Libras do Núcleo de Atendimento Especial à Pessoa com Deficiência - Naepd e Elciane Mary Calixto.

Cleide Ramos Reis, do  Centro de Vida Independente - BA e mestranda em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, ministrou a palestra “Acessibilidade nos Transportes Municipais e Intermunicipais” e Silvana Cambiaghi, mestre em Desenho Universal pela FAU-USP e membro da CPA – Comissão Permanente de Acessibilidade  de São Paulo, falou sobre “O Papel da CPA, como Garantia de Acessibilidade nos Municípios”.
Já o diretor do Conselho Nacional dos Centros de Vida Independente e um dos palestrantes da tarde, Romeu Kazumi Sassaki, falou sobre a necessidade de o país se preparar para a realização de ações afirmativas que, segundo ele, representam uma postura social favorável. Sassaki atua há 52 anos na área da deficiência como especialista e consultor. Escreveu o livro “Inclusão: Construindo uma sociedade para todos”.

A última palestra, com o título “Mobilidade Urbana em Calçadas Acessíveis: Exemplos e Novos Paradigmas para o Brasil” foi apresentada por Regina Cohen - Arquiteta, Pesquisadora Associada no Departamento de Tecnologia da Construção da FAU/UFRJ e Coordenadora do Núcleo Proacesso (PROARQ/FAU/UFRJ).
Regina Cohen fala sobre Acessibilidade e Patrimônios Culturais


Necessidades especiais?

E as necessidades especiais, será que são tão especiais assim?
Será que temos sempre que dar ênfase às diferenças? Segundo Marcelo, a sociedade tecnológica funciona como uma cabine, uma cápsula protetora e constitui um problema de grandeza mundial. 
Para ele, a tecnologia não deve ser tomada como a solução para os problemas de acessibilidade, pois ela pode ser um fator de exclusão em alguns casos, prejudicando assim a integração entre as pessoas, possuam elas deficiências ou não.

E aí, é um fator arquitetônico: oferecer ou não espaços que integrem as pessoas, evitar ou não a segregação. É como se fossem vidas paralelas, em que o deficiente está sempre alheio porque os espaços dizem que tem que ser assim. 

É uma ilusão pensar que o cadeirante que mora no térreo vai criar relações sociais com as pessoas do último andar. É ilusão também achar que tem que ter uma fila separada para ele. É muito chato chegar no cinema e não poder escolher onde ficar, porque já tem um lugarzinho ali, reservado para ele!

Imagem exibida durante a apresentação de Marcelo Guimarães Pinto


Estes não são espaços acessíveis!!! São espaços paralelos. E enquanto for assim, a sociedade não será inclusiva.

E é ilusão pensar que a tecnologia resolve tudo. As necessidades especiais são as mais comuns, as mais normais. Na verdade tais necessidade são comuns a todos nós.

Temos então que repensar a lógica cartesiana, abandonar a solução imediata, o pensamento linear e aderir a uma visão mais holística sobre o assunto. Pensar que "um todo é parte de outros todos" é começar. E a partir daí temos diversos conceitos até chegarmos de fato no design universal.

A acessibilidade é um direito humano, e nós arquitetos, temos como instrumento o desenho universal para tornar a vida das pessoas mais satisfatória e independente. 

Por Jéssica Rossone

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