sexta-feira, 27 de abril de 2012

Seminário discute patrimônio, cultura e educação

A segunda edição do seminário "Olhar sobre o que é nosso", organizado pela Funalfa, discutiu este ano a relação do patrimônio com cultura e educação. Nos três dias do evento, dias 24, 25 e 26 de abril, a programação contemplou os participantes com duas palestras e um debate.

No primeiro dia tivemos as palestras "Patrimônio, Cultura e Educação", com Luiz Fernando de Almeida, presidente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e coordenador do Programa Monumenta do Ministério da Cultura e "Patrimônio imaterial sob a ótica da cultura e educação", com Célia Maria Corsino, museóloga e diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan.

No segundo dia de atividades tivemos a participação de José Reginaldo Santos Gonçalves, PhD em Antropologia Cultural pela Universidade de Virgínia (EUA) e pesquisador Associado III do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a palestra "Patrimônio Cultural e Cultura" e também a participação de Lygia Baptista Pereira Segala Pauletto, pós-doutora pela École des Hautes Études em Sciences Sociales e pelo Centre D'Étude du Développement em Amérique Latine, ambos na França. Coordenadora do Laboratório de Educação Patrimonial da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, ela nos apresentou a palestra "Patrimônio cultural e educação".

Debate: José Reginaldo Santos e Lygia Baptista Pereira Segala Pauletto

No terceiro e último dia, tivemos as palestras "Patrimônio cultural: um novo campo de ação para os professores", com Júnia Sales Pereira, da Faculdade de Educação da UFMG, uma das coordenadoras do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História (Fae/CP-UFMG) e "Educação patrimonial na perspectiva transdisciplinar", com Adriana Piva, mestre em educação pela UFMG e bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).


Debate: Júnia Sales Pereira e Adriana Piva

Os novos desafios trazidos pelas novas metas de patrimonialização imaterial foram ressaltados durante a fala da professora da Faculdade de Educação de UFMG Júnia Sales Pereira. Para ela, novas políticas patrimoniais trazem consequentemente a invocação de novas culturas e a sua aceitação é um desafio, como referencialidade e pertencimento. Ao mesmo tempo que as singularidades regionais e locais são incluídas nesse novo contexto, o sentimento nacionalista recebe uma provocação em relação à inclusão social.
 E, neste sentido, os professores são considerados os agentes sociais que agem através da potencialização da cultura como patrimônio e podem provocar tais mudanças com maior domínio. Sob o olhar das novas ações patrimoniais o patrimônio, a cultura e a criação são agora entendidos como potência e é importante que as pessoas a se sentam parte do complexo patrimonial. Para exemplificar esta última afirmação, ela cita o poema "A rua em mim" de Carlos Drummond de Andrade, transcrito logo abaixo.
 
A rua em mim - Carlos Drummond de Andrade
 
Rua do Areão, e vou submergindo
na pirâmide fofa ardente, areia

cobrindo olhos dedos pensamento e tudo.
Rua dos Monjolos, e me desfaço milho
pilado lancinante em água.
Paredão da Rua Tiradentes, em Itabira

Evitar a espetacularização do patrimônio.
Rua do Cascalho, arrastam meus despojos
feridos sempremente. Rua Major Laje,
salvai, parente velho, este menino
desintegrado.
Rua do matadouro, eu vi que sem remédio.
Rua Marginal, é sempre ao lado
ao longe o amor.
Ao longe e sem passagem na
Ladeira Estreita.
Rua Tiradentes, aprende e cala a boca.
Travessa da Fonte do Caixão,
e tudo acaba?
Rua da Piedade, Rua da Esperança,
Rua da Água Santa, e ao úmido milagre
me purifico, e vida.

 

Logo após, a palestrante nos faz pensar no valor e na lógica do patrimônio natural, além do imaterial, que nós havíamos discutido até o momento. E nos apresentou o texto abaixo reproduzido.


Ruína - Manoel de Barros

Um monge descabelado me disse no caminho: Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma descontrução. Minha idéia era fazer uma coisa com jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para ABRIGAR O ABANDONO, como as taperas abrigam. Porque o abandono não pode ser apenas um homem debaixo da ponte, mas pode ser também um gato no beco ou uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (o olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR... A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para salvar a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo. E o monge se calou descabelado.

O seminário contou com a presença de participantes provenientes de várias cidades da Zona da Mata Mineira, fato que evidenciou a sua importância para a formação profissional e acadêmica da população residente próxima ao município de Juiz de Fora. Acrescentou muito na minha formação não só acadêmica, mas também pessoal. Recomendo à todos que participem deste tipo de eventos, seja qual for sua área de atuação, pois nos estimulam a pensar de forma crítica e não apenas assistir os acontecimentos que interferem em nossa sociedade.


Por Jéssica Rossone
 

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