quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"A vida é um sopro"



É Oscar, a vida é realmente um sopro. O TDB expressa aqui o sentimento e a admiração eterna por ti.

Não pretendo falar sobre suas obras, mas do sentimento que elas causam.
Nós, estudantes de arquitetura, encontramos na sua pessoa a inspiração necessária. Exemplo e ponto de partida, em que podemos ver nosso passado, presente e futuro. Em suas obras nós podemos sentir o verdadeiro valor da arquitetura.  
Nada será como antes. Vivíamos a arquitetura como se em algum momento pudessem surgir novos projetos, novos riscos.

E agora?

Fazíamos os trabalhos e as provas dissertando sobre alguém relativamente próximo de nós. E considerávamos a possibilidade de conhecê-lo, talvez e em algum momento da vida.

Sabíamos da sua grandiosidade, da beleza de suas curvas. Visitamos suas arquiteturas alocando-as no tempo presente, mesmo que soubéssemos muito bem o seu passado.

De fato, teremos sempre este sentimento de nostalgia. Uma parte de nós e da nossa identidade enquanto arquitetos se foi... E assumimos, a partir de agora, uma grande responsabilidade.

De certo, sua arquitetura será comemorada para sempre. Mas aqui eu faço questão de comemorar sua arquitetura no contexto social. Certa vez, Niemeyer disse:

"Os pobres ficam vendo os palácios de hoje sem poder entrar. (...) A vida não é justa. E o que justifica esse nosso curto passeio é a solidariedade”.

Para mim, não há frase mais enfática sobre seu trabalho durante todos estes anos. Não vejo outra citação melhor do que esta para exemplificar a mudança que significou para nosso país.

E "se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito", não é mesmo?

Certa vez, eu fui à Brasília. Não sabia muito sobre arquitetura, e até hoje penso que ainda não sei. Mas fiz algumas fotos que hoje servem de recordação. 
O primeiro lugar que visitei foi esta: a primeira construção no sentido oeste-leste, chamada Igreja Rainha da Paz, inaugurada em 1994. A simplicidade dos traços me envolveu e eu fiquei feliz por estar ali. Eu sequer sabia que se tratava de uma obra dele, Niemeyer. Mas fiquei ali, um bom tempo pensando sobre a vida. Olhei bastante antes de entrar. Era estranho para mim ver o céu de qualquer lugar, e isso me causava um certo incômodo. Mas fui convidada a entrar, e fui meio sem rumo pela rampa da entrada principal.


Fachada da Igreja Rainha da Paz  em 2011

Sentei bem lá no fundo. Era um domingo de manhã, e estava vazia. A missa havia terminado há algum tempo. Me senti intimada a refletir sobre algumas coisas. Não necessariamente sobre arquitetura, mas era por ela que eu estava ali. Hoje entendo porque esse lugar me chamou tanto, me indagou, me incentivou. 

Interior da Igreja em 2011

A Catedral Metropolitana de Brasília, obra mais conhecida e presente no roteiro dos visitantes da capital, me encantou como nenhum outro lugar até a presente data. Não queria ir embora. 

Vista geral da Catedral Metropolitana de Brasília em 2011

No interior, observei que conseguia escutar o que as pessoas falavam de qualquer lugar que eu estivesse, não importava a distância entre nós. Cheguei bem pertinho da parede de concreto, encostei e fiquei lá, admirada.

Interior da Catedral em 2011
Fiquei parada um bom tempo embaixo destas esculturas a entender o espaço. Pude ver o céu pelos vitrais e as nuvens mudando a todo momento lá fora.  



O símbolo de Brasília não poderia faltar. É um ótimo espaço para entender a mensagem que o arquiteto pretendia passar. 


É certo que cada obra tem a sua particularidade, e nestas imagens não cabe o sentimento de perda que temos agora. Nelas, somente teremos lembranças. 

O que temos de mais significativo fica subentendido nas curvas, nos riscos livres, na novidade figurativa.  Obrigada ao mestre brasileiro, por mostrar nossa arquitetura lá fora, por nos inserir em um novo contexto. 
Obrigada pelo conhecimento herdado e pela filosofia de vida, tomada por muitos como exemplo. Obrigada pela inteligência e ousadia que permitiram que nossa arquitetura tenha se desenvolvido.


 “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo”.

Oscar Niemeyer
15.12.1907 - 04.12.2012


 Por Jéssica Rossone

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