Natural de Juiz de Fora, o arquiteto Rogério Mascarenhas vem comandando seu escritório desde 1996 demonstrando uma política de formação de uma equipe competente e coesa, que recebera contribuições de diversos profissionais que hoje já não estão mais na empresa mas que deixaram seu legado na arquitetura da cidade. O trabalho e empenho desses profissonais vem sendo reconhecido internacionalmente e, conta hoje com uma publicação em mandarim pela LST International Book Publishing Center.
Essa é a terceira entrevista que o Thau do Blog publica com alguns dos principais escritórios de arquitetura que têm atuado na cidade de Juiz de Fora nas últimas décadas. Agradecemos a todos os envolvidos e especialmente ao Rogério Mascarenhas pela objetividade e pela disponibilidade de concedê-la. Essa entrevista foi elaborada e realizada pelo aluno Vitor Wilson, da Equipe Editorial do Blog.
Equipe do Escritório Mascarenhas |
Entrevista Rogério Mascarenhas:
1. Você é natural de Juiz de Fora? Qual a sua formação acadêmica/ profissional?
Rogério Mascarenhas (RM): Nasci em Juiz de Fora. Me graduei no Rio de Janeiro, e conclui um mestrado na Universidade Politécnica da Catalunha em Barcelona, Espanha.
RM: Já dizia que seria arquiteto desde a infância. Estou muito ligado a área de criação e desenho desde muito cedo.
3. Ao se formar, já se sentiu apto e seguro para atuar como arquiteto? Como surgiu a idéia de trabalhar em um escritório próprio? Como estava o mercado na época em que você finalizou a graduação? Houve uma fácil aceitação do seu trabalho ou foi necessário um período maior para entrar efetivamente no mercado da construção?
RM: Acho que nenhuma universidade prepara totalmente para o exercício da arquitetura. Existe uma distância entre a formação acadêmica e a prática real da profissão. Quando me formei havia uns raros empregos para arquitetos na prefeitura, ainda não havia escolas de arquitetura, e as construtoras também não contratavam arquitetos. Abrir um escritório, e trabalhar para quem precisasse era a única opção. O Brasil vivia uma crise que já durava décadas, não havia a demanda que existe hoje. Por outro lado, eu abri o primeiro escritório-empresa exclusivamente dedicado ao desenvolvimento de projetos na cidade, com placa na porta, publicidade nos jornais, etc... Isto me fez sair na frente, conquistar clientes, abrir caminho e valorizar uma profissão que era quase inexistente em Juiz de Fora.
4. Quais são as suas principais referências estéticas e projetuais ao desenvolver um trabalho? Quais arquitetos mais te influenciaram e/ou ainda influenciam no seu trabalho?
RM: As referências que possuímos são o conjunto de tudo que nós vivenciamos, aprendemos ou conhecemos. As experiências que mais te marcam e emocionam costumam ser suas influências mais fortes. Admiro o trabalho de Niemeyer, Zaha Hadid, Issay Weinfeld, Frank Gehry, Gustavo Penna, Foster, Piano, entre outros.
5. Fora a arquitetura você tem alguma outra aptidão ou desenvolve outro tipo de atividade?
RM: Tenho inúmeros interesses culturais e de conhecimento em geral. Sou um curioso e gosto de ler, aprender, evoluir e buscar o equilíbrio enquanto ser humano. Sou especialmente interessado em arte, história, geografia, viagens e assuntos da espiritualidade.
6. Qual o peso de ganhar diversos prêmios e concursos exerce na vida de um arquiteto? E quanto às atividades dentro do escritório?
RM: Este processo de fazer arquitetura em uma cidade que praticamente ignorava esta profissão me fez querer mostrar as qualidades e as nuances desta atividade. Prêmios e concursos são o reconhecimento público deste trabalho por parte de outros profissionais. Estamos, eu e meus sócios (Mário, Fábio e Pryscilla), sempre buscando a autossuperação nos desafios que surgem em nosso escritório.
7. O seu escritório aparenta ter um interesse em manter uma imagem internacional: diversas vezes você disse ter freqüentado festas em Ibiza e por toda a Europa acabando por conceber um projeto aos moldes para o Privilège Juiz de Fora, além de manter publicações internacionais como a publicação de dois projetos pela LST International Book Publishing Center, inclusive com versões em mandarim. Como o escritório vê esse viés internacional? Seus projetos seguem uma tendência internacional? A arquitetura brasileira ainda se destaca no cenário mundial?
RM: É preciso estar atento ao que acontece no mundo. Se vou projetar um Privilège é importante saber como são os clubes de São Paulo, Tóquio, Londres ou Ibiza. Quanto maior seu leque de referências, maior será seu repertório de possibilidades. O mundo já está muito integrado, globalizado e até mais uniforme do que eu gostaria. A arquitetura brasileira precisa, como qualquer outra, tentar resgatar suas particularidades e singularidades para voltar a encantar o mundo como foi nos meados do século passado. Há sinais que isto está começando a ocorrer. As pessoas de todo o mundo não querem a estandartização. Todos querem se ver únicos, especiais, realçando suas identidades. Temos que resgatar nossa brasilidade.
8. Estamos vivendo uma época de valorização imobiliária e de crescimento de Juiz de Fora, inúmeros empreendimentos em andamento, problemas surgindo e outros sendo consolidados como a dificuldade de mobilidade na cidade. Você vê alguma solução pra isso? E quanto ao que vem sendo produzido, como você enxerga a arquitetura juizforana?
RM: Eu vejo solução para todos os problemas que afligem nossas cidades, pois penso e vivo esta questão urbana o tempo todo. O que falta são debates, vontade, união, esforços e recursos; cada um está agindo por si, sozinho, só pensando em seus interesses imediatos. Este caminho é mais longo, sofrido, equivocado e representa um gasto de energia. Levará muito tempo para arrumar as nossas cidades que se tornam um amontoado de equívocos. A mobilidade depende de um sistema de transportes públicos racional e troncalizado, aliado à intermodalidade de sistemas e um planejamento eficaz acompanhado de fiscalização.
9. Você acompanha a produção de outros escritórios e colegas aqui na cidade? Quais os projetos e/ou obras que não são do Escritório Mascarenhas que você destacaria como projetos de qualidade?
RM: A arquitetura de qualidade em Juiz de Fora, como em todo Brasil, ainda é muito dispersa. A profissão ainda é pouco valorizada. Cito algumas obras do Arcuri, o Clube Juiz de Fora de Francisco Bolonha, o Banco do Brasil do Niemeyer, a sede da Multitek de Álvaro Granini, a sede da Pangea do Lourenço Sarmento, a Garrafaria do Skylab, uma casa da Patium no Spinaville. São alguns Trabalhos que admiro.
10. Existem projetos do Escritório Mascarenhas em outras cidades ou regiões?
RM: Tenho projetos mais conhecidos em Juiz de Fora e região, pois vivi no Rio e em Barcelona, mas foi aqui que escolhi para me estabelecer e colaborar com meu trabalho. Mas já são dezenas de projetos no Rio e em dezenas de outras cidades; no Pará, no DF, em Santa Catarina, etc...
Interior do Escritório Mascarenhas |
11. Como lida com as críticas ao seu trabalho?
RM: As críticas a uma ou outra obra não podem ser confundidas com críticas pessoais. Há também obras minhas, que por diversos motivos, eu tenho críticas a fazer. Aliás, sou mais crítico com meus próprios trabalhos que com o dos colegas. Críticas são indispensáveis e inevitáveis, pois cada pessoa pensa de um jeito, mas críticas sem conteúdo, embasamento ou conhecimento do processo ficam desprovidas de validade.
12. O que você tem a dizer para os jovens estudantes de arquitetura? Que sugestões e conselhos tem a dar para quem está prestes a entrar no mercado profissional?
RM: Sejam observadores, aproveitem todo o tempo do mundo para estudar e aprender. Procurem saber cada vez mais e pratiquem para se destacarem. Trabalhem com amor pelo que fazem, sirvam com empenho a seus “clientes” (sejam eles seus alunos, colaboradores ou contratantes) e estejam dispostos a fazer a melhor transformação dos espaços que vocês conseguirem fazer. Xô preguiça!
13. Enumere alguns livros que você julgue essenciais para a boa formação de um arquiteto/urbanista. Em que ponto esses livros mudaram a forma de você pensar e avaliar a sua própria produção?
RM: São centenas de livros que se acumulam em minha formação, cada um contribui um pouco. Muitos não são exatamente de arquitetura, pois o conhecimento não tem fronteiras. Mas cito o Saber Ver Arquitetura do Bruno Zevi; a Linguagem Moderna da Arquitetura e seus cânones; os livros de história de Benévolo e Frampton, o Delirious New York e Mutaciones do Koolhas; a cidade dos Arquitetos de Terence Moix, a El Croquis que esmiúça a obra e o pensamento de diversos arquitetos. Estas obras ampliam a forma de ver a arquitetura.
Entrevista realizada em Dezembro de 2011 por Vitor Wilson.