Na quarta entrevista com alguns dos principais escritórios de arquitetura da cidade de Juiz de Fora, apresentamos o arquiteto Eduardo Felga, um dos Diretores, junto com Daniele Baião, do escritório Arquitetônica. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFJF em 1999 – a quarta turma de arquitetura formada na cidade - Felga nos fala sobre suas experiências com um mercado de trabalho limitado na época e sobre a evolução da arquitetura na cidade desde aqueles anos até os dias atuais.
A equipe do escritório atualmente conta com seis membros: Eduardo Felga, Daniele Baião, Natalie Piazza, Débora Verônica, Bruno Tavares e Daniel Moratori (na foto da esquerda para a direita).
O THAU do Blog: Você se graduou em arquitetura e urbanismo pela UFJF em 1999, e se especializou em Desenvolvimento Estratégico do Projeto em Engenharia e Arquitetura em 2001. Como era a demanda do mercado de trabalho quando se graduou? O que te levou a fazer uma especialização logo em seguida?
Eduardo Felga: Naquela época havia poucos escritórios de arquitetura na cidade e a escola de Arquitetura em Juiz de Fora estava iniciando, pois fomos a quarta turma a se formar. Portanto, a cultura de se contratar um arquiteto ainda era pequena e a tradição da Faculdade de Engenharia na cidade prevalecia. Os escritórios da cidade, apesar de poucos, estavam desenvolvendo ótimos trabalhos e começando a mostrar para a sociedade a importância do trabalho do arquiteto.
A oportunidade de conciliar as atividades do escritório com um curso de pós-graduação em Juiz de Fora foi decisiva na escolha do curso, com um tema de interesse na minha carreira, além de prestigiar a Faculdade de Arquitetura de nossa cidade.
OTDB: Como surgiu a oportunidade de trabalhar em um escritório próprio?
EF: Quando nos formamos no início de 1999, eu e Daniele Baião fomos convidados pelo arquiteto Alvaro Giannini, que havia sido nosso professor na UFJF, a constituirmos um escritório e fundamos o GF&B Arquitetos. Todo colaborador quando entra para nossa equipe, contamos uma historinha de nossa origem. Começamos a trabalhar com poucos recursos e como queríamos vencer com nossos próprios esforços, montamos nosso escritório em um cômodo de 3x3m nos fundos da garagem da casa da Daniele, no bairro Bom Pastor. Fomos um dos pioneiros no bairro e desde então não saímos mais, mudando para um sobrado de quarto e sala e depois para o atual endereço na esquina da praça. Mas não foi fácil conquistar nosso espaço, foi preciso paciência e perseverança para chegar a nossa carta de clientes que foram aparecendo a partir de indicações por trabalhos executados. Esta formação de arquitetos titulares se manteve por seis anos até a saída de Alvaro, permanecendo como sócios eu e a Daniele e o escritório passou a se chamar Arquitetônica.
OTDB: Durante a graduação, você teve alguma experiência em escritórios de arquitetura?
EF Sim. Como fiz curso profissionalizante em Eletrotécnica no CTU e tendo feito dois estágios na Usiminas e Mendes Jr, eu já sabia que aliar a vida acadêmica à experiência prática era essencial para a formação profissional. Desde o 5º período procurei estagiar nos mais diferentes ramos da arquitetura, desde monitoria de PA, Empresa Jr da UFJF, IPLLAN a escritórios de arquitetura. Estes últimos, sem dúvida foram um divisor de águas na minha percepção do criar arquitetura e como é o cotidiano de um escritório de arquitetura. Carregarei para sempre em meu DNA a experiência que adquiri nos escritórios de Hérmanes Abreu, Rogério Mascarenhas e Demetre Anastassakis, no Rio de Janeiro.
OTDB:Em sua opinião, como você acha que está a demanda de mercado para as pessoas que estão se graduando em arquitetura e urbanismo agora em Juiz de Fora?
EF Estou muito otimista para o mercado de trabalho pelo menos até 2020, não só para a construção civil e nós arquitetos, mas para todo setor de prestação de serviço. Temos que aproveitar os bons ventos da “década do Brasil”, dito por um amigo português, e construirmos nossas carreiras com dedicação e solidez. Apesar do número crescente de escritórios na cidade, já que temos duas escolas de arquitetura, creio que há campo em todos os ramos da profissão. Acredito que com o aumento do número de profissionais atuantes no mercado, com certeza teremos uma melhoria na paisagem urbana e planejamento de nossa cidade.
OTDB: OTDB: Alguns dos maiores escritórios de arquitetura de Juiz de Fora tem como arquiteto titulares profissionais que atuam paralelamente como professores. Em que o fato de trabalhar como professor auxilia nos projetos de um escritório?
EF Como professores, somos obrigados e estimulados a estar sempre nos atualizando, estudando e pesquisando para resolvermos ou respondermos quaisquer questões trazidas pelos alunos. Mas, na minha opinião o principal fator é a oxigenação. Todos os semestres nos deparamos com inúmeras soluções projetuais para uma mesma situação. A orientação e avaliação destes trabalhos nos permite experimentar um volume de projetos que seria impossível em um escritório.
OTDB: Durante a formação e também na vida profissional quais arquitetos mais serviram de inspiração e de referências para vocês?
EF Há inúmeros arquitetos cujo trabalho nós admiramos e com certeza influenciam em nossa produção. Para citar somente alguns, Eduardo Souto de Moura, Richard Meier, Rino Levi, Gustavo Penna, Una Arquitetos, Álvaro Puntoni, Mário Biselli e claro Alvaro Giannini.
OTDB: Já há algum tempo que Juiz de Fora vivencia o chamado “Boom Imobiliário”, em toda a cidade estão sendo construídos muitos edifícios uni e multifamiliares em grande velocidade. O que você acha da arquitetura que vem sendo reproduzida na nossa cidade?
EF De uma maneira geral, estamos tendo uma melhoria na qualidade arquitetônica da cidade, principalmente nas residências unifamiliares. Na produção de edifícios multifamiliares vemos alguns bons exemplos de arquitetura, mas há alguns equívocos como os de estilo neoclássico lançados recentemente que, infelizmente, pelo que parece, faz algum sucesso com o público.
As construtoras estão descobrindo que um projeto elaborado por arquitetos engajados em realizar uma boa arquitetura, ao invés de contratar profissionais não habilitados ou que visam somente o mercado imobiliário, é um bom negócio, pois agrega valor ao empreendimento.
Em outros setores como de lojas comerciais houve um salto gigantesco de pouco tempo para cá. Um bom exemplo são as lojas do Independência Shopping, não conheço outro que tenha um percentual de lojas tão bonitas e bem elaboradas quanto este. Isso exige dos comerciantes do centro da cidade dar um “up grade” em seus estabelecimentos a fim de atender aos clientes cada vez mais exigentes e conhecedores da boa arquitetura.
Recepção do escritório