O prêmio Pritzker esse ano foi entregue ao arquiteto português Eduardo Souto de Moura. A cerimônia de entrega do prêmio ocorreu na capital americana com direito a um breve discurso do Presidente Barack Obama. Eduardo foi o segundo português a receber o prêmio, nasceu em Porto, 1952, e se formou em 1980 na Escola de Arquitetura do Porto. Com mais de 60 obras construídas, iniciou sua carreira já vencendo o primeiro concurso, um ano após se formar, o concurso para a Casa das Artes em sua cidade.
Ele se formou num cenário de emersão do pós-modernismo no mundo, porém Portugal era recém-saído de uma ditadura (1974) e sua arquitetura não havia passado pelo modernismo, obedecendo a normas e modelos impostos pelo regime autoritário. Eduardo se convenceu de que Portugal não poderia exercer o pós-modernismo (estilo que tem como força principal a crítica ao modernismo) sem nunca ter conhecido o modernismo.
Optou então por fazer uma arquitetura de cunho modernista marcada por duas vertentes, a vinda da academia com influência de mestres como Alvaro Siza (primeiro arquiteto português a receber o Pritzker, com quem trabalhou como estagiário antes de se formar), e outra fortemente influenciada por Mies van der Hohe, presente na simplicidade e predominância de linhas horizontais. Apesar da simplicidade nota-se a habilidade em mesclar materiais naturais e artificiais, às vezes utilizando pedras de mil anos com detalhe moderno, associando técnicas tradicionais e inovadoras.
Seu projeto “Casa das Artes”, é uma amostra dessa habilidade. Utiliza vidro, cobre, pedra, concreto e madeira. Um exemplo são os muros da frente, de pedra contrastando com o vidro, criando uma ilusão de continuidade do cenário e neutralizando a presença do edifício, aceitando a presença dos elementos que já existiam no local. Essa é outra característica marcante de suas obras, que destaca e utiliza a importância do local onde se insere o projeto. Assume a realidade, e projeta a partir dela.
Casa das Artes, Porto
A partir dos anos 2000, o arquiteto inaugura importantes obras públicas, saindo um pouco da linha residencial que vinha projetando. Com isso assume traços mais ousados e escalas maiores. A mudança no rumo de seu trabalho se dá quando percebe que ao fazer uma casa-pátio sua forma de projeto estava perto da fórmula de projetar, deixando de conter a crítica, que para ele é importante. Ainda assim, a mudança na sua forma de projetar não se distanciou da contextualização sócio-política da obra à situação de Portugal, e principalmente da adequação da obra à realidade local.
Por Daniela Pereira Almeida