segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Giovanni Carbonara fala sobre conservação e restauro no Brasil



Ao longo da história, a Itália sempre esteve presente entre as nações que mais discutiam a preservação e a restauração dos bens, preocupadas com o seu patrimônio. Vários estudiosos italianos como Camillo Boito com a teoria do restauro filológico, e Cesare Brandi com a teoria do restauro crítico, tiveram seus textos traduzidos em vários idiomas e são muito estudados hoje em cursos superiores de Belas Artes, História da Arte, Arquitetura e Engenharia e em especializações em Conservação e Restauro, por exemplo. Além destas, a Itália foi o berço de outras teorias importantes como a do restauro histórico de Luca Beltrami e o pensamento de Gustavo Giovannoni. 

A explicação para o desenvolvimento de todas estas teorias é particularmente ligada a quantidade de bens em solo italiano e a sua longa história, cronologicamente falando, representada por meio de todo o patrimônio cultural, artístico e histórico. A Itália é o país que detém o maior número de itens incluídos na lista de patrimônio da humanidade com 49 itens, seguido da China com 45, e da Espanha com 44 itens. O Brasil ocupa o 11º lugar na lista, juntamente com a Austrália, os dois com 19 itens cada um. 

Além disso, a construção deste pensamento preocupado com o futuro dos bens faz parte da cultura do povo europeu, são valores passados de pai para filho. Não é preocupação com o passado, mas com o futuro dos bens. Muitas vezes, no pensamento prático americano, um país com pouco mais de 500 anos não tem muitos bens a preservar se comparado a países europeus, com séculos de história. E mais do mesmo acontece em cidades brasileiras há muito tempo, com o seu patrimônio e identidade esquecidos em prol do progresso. Em contrapartida, o continente americano investe cada vez mais em tecnologia e sistemas práticos e digitais, o que confere um ponto positivo na realização de projetos. 

No dia 14 de novembro de 2013, durante as atividades da disciplina de Restauro Architettonico oferecida este semestre pela Università di Bologna, eu e alguns amigos brasileiros participamos do evento Conferenza di Restauro Architettonico - Valorizzare il patrimonio culturale

Ao lado do Prof. Eng. Claudio Galli, Prof. Arq. Giovanni Carbonara faz a abertura do evento
Este evento serviu para intensificar o aprimoramento de sistemas digitais para a modelação 3D em projetos de restauro arquitetônico, com a discussão do livro Modelli Complessi per il Patrimonio Architettonico-Urbano, organizado por Mario Centofanti, do departamento de engenharia civil da Università degli Studi dell’Aquilla, Anna Marotta, do departamento de arquitetura e design do Politecnico di Torino, Michela Cigola, do departamento de engenharia civil e mecânica da Università di Cassino, Elena Ippoliti, do departamento de história, desenho e restauro de arquitetura da La Sapienza Università di Roma e Roberto Mingucci, do departamento de arquitetura da Università di Bologna. 

A conferência, organizada também pelo professor da disciplina Prof. Ing. Claudio Galli, contava com a presença de outros arquitetos ligados à pesquisa. Mario Docci e Giovanni Carbonara foram convidados especiais que contribuíram com uma visão mais alargada do tema. 

Giovanni Carbonara, mestre da Scuola Romana de restauro e um dos mais renomados teóricos da atualidade, tem a sua teoria baseada na definição de restauro transcrita a seguir: 

“S'intende per "restauro" qualsiasi intervento volto a conservare e a trasmettere al futuro, facilitandone la lettura e senza cancellarne le tracce del passaggio nel tempo, le opere d'interesse storico, artistico e ambientale; esso si fonda sul rispetto della sostanza antica e delle documentazioni autentiche costituite da tali opere, proponendosi, inoltre, come atto d'interpretazione critica non verbale ma espressa nel concreto operare.”

(Giovanni Carbonara, in Che cos'è il restauro? Nove studiosi a confronto, (da un'idea di B. Paolo Torsello), Venezia, Marsilio, 2005)

Ou seja, se entende por restauro qualquer intervenção voltada a conservar e a transmitir ao futuro, facilitando a leitura e sem cancelar os traços da passagem do tempo, as obras de interesse histórico, artistico e ambiental. 

Atualmente ele é professor da disciplina de Restauro Architettonico na Università degli Studi di Roma "La Sapienza" e diretor da Scuola di Specializzazione in Beni Architettonici e del Paesaggio. É também conselheiro do Centro di Studi per la Storia dell'architettura em Roma. 

O Professor Carbonara conversou com os alunos abertamente sobre o tema e no intervalo do evento respondeu gentilmente algumas questões feitas pelo O Thau do Blog. Antes de tudo, expliquei a ele o nosso interesse em estudar restauro na Itália, em buscar as teorias italianas e disse que queria saber a opinião dele sobre a nossa situação em relação a preservação do nosso patrimônio. 


Prof. Arch. Giovanni Carbonara e Jéssica Rossone (OTDB)

Professor Carbonara, qual é a sua visão em relação ao patrimônio colonial e moderno brasileiro e qual é o melhor modo de preservá-los quando temos tantas obras novas, como por exemplo as obras feitas para a Copa Mundial de Futebol de 2014 e para outros eventos?

Olha, a minha impressão é que o problema seja um problema de caráter geral, não só em relação ao patrimônio brasileiro, italiano ou espanhol. Quando uma pessoa se confronta com o patrimônio histórico é como o valor que é dado historicamente, isto é, tem a questão do reconhecimento do valor do bem.
Como é avaliado, considerado. Como é sentenciado. E o mesmo vale para as obras modernas. 

O patrimônio do século XIX, muitas vezes, não é reconhecido como portador de um valor estético, social, histórico. Então ele se torna susceptível a transformações, modificações por razões práticas, intervenções de reforma ou modernização, e não um verdadeiro restauro.

Os desenvolvimentos teóricos já foram feitos essencialmente, o problema é hoje aplicá-los corretamente, e não é uma questão somente técnica mas sobretudo econômica e de vontade política. O problema é, na minha opinião, reconhecer o valor histórico destes bens como se fossem documentos em um arquivo, obras de arte em um museu: reconhecer estes valores e agir em conformidade com eles. 

Ou seja, este reconhecimento, especialmente para a arquitetura contemporânea, é difícil. É que não é só um valor prático, mas um valor também de memória, de respeito por estes bens e, algo em relação a isso, seja pelas bibliotecas, pelos arquivos, pelas obras de arte. Somente para a arquitetura a importância prática muitas vezes é vista de uma maneira um pouco particular e interfere, nem sempre positivamente, com o restauro.

Então, eu penso que dependa muito daquilo que as pessoas imaginam para o futuro, se alguém acredita que o futuro possa ser construído também sobre o passado, não o desprezando, se trata de uma maneira certa. Eu vi o problema do grande estadio do...

Maracanã?

Sim, que era uma belíssima obra e que foi transformada em uma coisa que não se compreende o que seja, ou também estações ferroviárias. Depois vi coisas completamente diversas, de restauros modestos de grandíssimo interesse e construções simples conservadas porque a população reconhece nelas um valor. 

Infelizmente a arquitetura ao contrário da arte se mescla confusamente com grandes problemas econômicos, políticos, de dinheiro, de uso, e consequentemente o reconhecimento, o tratamento respeitoso aos bens culturais é difícil. É ainda mais difícil quando falamos em arquitetura contemporânea. 

Em relação a arquitetura colonial, vocês a reconhecem como seu patrimônio? Diria que sim, não? Não é uma arquitetura nacional que não tem um significado. É a história de vocês, diríamos não? São a base, os fundamentos. 

Estas são atitudes culturais, isto é, de que modo uma pessoa quer construir o futuro? Acreditamos que, talvez, com o passado se pode aprender? Eu acredito que sim.

O restauro é não feito exclusivamente para os estudiosos, eruditos. Ele é feito para os jovens, para deixar o legado mais rico possível para as futuras gerações. Observar e percorrer uma bela arquitetura é como ler uma poesia, qual é o seu significado? Qual é o significado das obras antigas ou das obras modernas também belas, Niemeyer e assim por diante? Elas tem significado para a vida de hoje e de amanhã? Esta é a questão fundamental. Então, todo o resto vem depois. Estamos falando de valores culturais, espirituais, educativos e formativos, não somente econômicos ou práticos.

Me parece que, à parte do mundo latino, a posição anglo-saxã prevaleça com uma atitude economicista, sociologizante, politicamente correta e etc. Mais diferente e delicada, então, é a atitude em relação aos parques, jardins, à natureza.

É de baixo, de cada classe social, que deve vir o respeito pelas tradições. Considerá-las uma parte viva do nosso ser e não uma coisa mofada, depêche, velha. Então se pode falar, mas é importante respeitar. Se respeita, projeta bem.

E como se entendesse que eu quisesse saber quais eram as expectativas dele em relação a nós, estudantes brasileiros, disse: 

Eu venho de uma Escola de Especialização de Restauro em Roma onde temos estudantes ibéricos, espanhóis, portugueses e também sul-americanos os quais história não sabem quase nada, mas são bons arquitetos, sabem projetar e se tornam ótimos restauradores porque entendem as razões de um modo de projetar diferente no qual o conhecimento histórico-crítico e o respeito aos testemunhos materiais do passado tem um grande papel.  Não é que o restauro mumifica ou congela. Ele modifica, mas é necessário saber decidir em quais direções, com quais medidas. Mas um bom e culto arquiteto, capaz de ouvir as vozes de outras disciplinas também, sabe dar as respostas certas.




O Thau do Blog conversou ainda com um dos organizadores do evento e pesquisador da Università di Bologna, Roberto Mingucci e ele nos contou um pouco do trabalho que fez sobre o Brasil em parceria com Portugal.

"Nós fizemos um trabalho juntamente com o representante do Ministério Português que ainda mantém toda a documentação sobre o início das intervenções que hoje são históricas do início do Brasil como colônia portuguesa. É uma sensibilidade que vemos que está amadurecendo e tinham muitos pesquisadores brasileiros neste seminário que fizemos em Tomar. Foi o início de uma relação entre Brasil e Portugal, mediado pelo grupo bolonhês que fez esta intervenção."

O grupo brasileiro manifestou interesse em continuar esta relação. O patrimônio histórico e arquitetônico do Brasil a partir do século XVI é muito interessante e a mentalidade está mudando."

Estudantes brasileiras ao lado de Mario Docci, Claudio Galli e Roberto Mingucci
O Thau do Blog e todos os estudantes brasileiros presentes agradecemos esta oportunidade de estar frente a frente com estes mestres do restauro e a gentileza de todos eles de conversarem abertamente sobre o tema conosco.


Para saber mais sobre o trabalho do professor Mingucci entre neste link: http://disegnarecon.unibo.it/issue/view/341/showToc

Para trabalhos em português que citam a teoria de Giovanni Carbonara acesse o link: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/06.069/3104 ou www.teses.usp.br/teses/disponiveis

Alunos presentes no evento: Larissa Freire (UFMG), Kelly Tagliati (UFJF) Simone Becker (UNISINOS) Leonardo Cavalcante (SENAC-SP), Juliana Faria (Centro Universitário UNA).

Por Jéssica Rossone

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mapeamento e Documentação da Nova Produção de Arquitetura da Cidade de Juiz de Fora (1990 - 2011)


Durante os anos de 2012 e 2013 a Universidade Federal de Juiz de Fora, juntamento com Departamento de Arquitetura e Urbanismo e sob a orientação do Professor de Arquitetura e Urbanismo Antônio Agenor Barbosa, desenvolveu o Treinamento Profissional denominado "Mapeamento e Documentação da Nova Arquitetura da Cidade de Juiz de Fora" entre os anos de 1990-2011.

A equipe que trabalhou neste Treinamento foram os graduandos em Arquitetura  e Urbanismo - UFJF: Ana Luiza Delgado (atuante), Blenda Viana (até final de 2012), Carla Bernardes (até início de 2013) e Ives Dotta (atuante).

Para quem desconhece, "Treinamento Profissional" (TP) consiste no relacionamento entre  a prática da profissão e a vivência pedagógica, através de visitas a campo, mapeamento e análises. O intuito é inserir  os alunos nos futuros campos de sua atuação com o intuito de proporcionar a eles o conhecimento de como sua profissão se desenvolve no mercado.

Especificamento no "TP" apresentado, os alunos  puderam se relacionar de forma indireta (por meio de entrevistas e acesso aos projetos) com escritórios de arquitetura  e construtoras na cidade de Juiz de Fora. Fazendo com que se aproximassem da dinâmica que gere essas profissões, o dia -a -dia desses ambientes, a prática de projetos, as dificuldades, facilidades e a opinião de muitos profissionais responsáveis pelas decisões que interferem diretamente na paisagem construída da cidade.

O intuito deste Projeto é o de criar a possibilidade de dar publicidade a esta nova produção de arquitetura na Cidade de Juiz de Fora, identificando autorias, referências e linguagens arquitetônicas que fazem parte da paisagem contemporânea que vem sendo construída na cidade. 

Além disso, segundo o Documento que foi apresentado ao PROGRAD para aprovação do Projeto: A cidade de Juiz de Fora tem experimentado um crescimento populacional e um desenvolvimento urbano sem precedentes nas duas últimas décadas."

"A verticalização da sua arquitetura e o aumento das demandas por edificações habitacionais tem dinamizado o mercado imobiliário na cidade e proporcionado expansões em bairros até então tidos como periféricos para o desenvolvimento da cidade alguns anos atrás".

Avenida Barão do Rio Branco na década de 60
Fonte: www.mariadoresguardo.com.br
Avenida Barão do Rio Branco
Fonte: www.portaldoturismo.pjf.mg.gov.br


Como já foi mencionado anteriormente ,o projeto se baseou žna  realização de entrevistas com os principais produtores desta recente produção arquitetônica na cidade. Com base nas respostas às entrevistas e questionários, foi elaborado um dossiê constando a documentação desta recente produção.

A  intenção é que este material sirva como objeto de estudo para os estudantes de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, bem como para os futuros pesquisadores interessados em entender o processo de desenvolvimento urbano sofrido pela cidade na virada do século.

Através de reuniões entre os alunos e o orientador, foi estabelecido um roteiro com aproximadamente onze temas que embasaram as pesquisas e entrevistas. A partir disso, foi feito um levantamento dos principais atuantes nesta produção.
Escritórios selecionados para o desenvolvimento do TP



Temas abordados:   

Impactos da nova arquitetura, 
Demanda dos escritórios, 
Concepção e processo projetual, 
Linguagem arquitetônica, 
Demolição de pré-existências, Acessibilidade,Verticalização, 
Materiais, 
Espaços livres, 
Integração,  
Referências teóricas.

No decorrer das pesquisas, a partir das conversas e abordagens realizadas com os arquitetos durante as entrevistas, percebeu-se um leque de possibilidades que podem desencadear variados assuntos relevantes.

Dentre os tópicos  abordados, os que geraram mais discussões nas entrevistas foram:

- A dúvida da existência de um desenvolvimento perceptível  na        arquitetura de Juiz de Fora e como ela se deu;
- O código de obras municipal julgado obsoleto pela maioria deles;
- A crescente verticalização;
- O tratamento das áreas livres da cidade;
- Patrimônio histórico.

Para todas estas questões o Arquiteto e Urbanista tem papel fundamental.

“As cidades, hoje, estão sendo feitas de cima para baixo, ou seja, com decisões do mercado, do governo ou dos dois. Esse sistema não cria uma boa cidade.” – Brugmans; George

É exatamente este tipo de crescimento que temos observado na cidade de Juiz de Fora, principalmente agora com a alteração da lei municipal 6910/86, aprovada na Câmara no dia 25 de novembro de 2013.

A alteração propõe um aumento na taxa de ocupação de algumas áreas do município em até 30%, ou seja, poderá se construir o equivalente a um andar a mais em todo o município com exceção do centro.

O principal problema deste aumento está nas áreas adjacentes ao centro, pois são áreas que já têm sua infraestrutura comprometida, e o adensamento, mesmo que seja bom para o mercado imobiliário, afetará a qualidade de vida dos cidadãos juizforanos e os problemas que hoje já estão presentes no cotidiano dessas áreas futuramente se agravarão, como: engarrafamentos, alagamento, transbordamento de esgoto, quedas de luz.

 Alterações essas estritamente de interesses econômico e político.

A cidade já se encontra em um estado precário de infra-estrutura, imagine quando as novas normas de construção começarem a vigorar.

Av. Itamar Franco, Av. Rio Branco, Rua Sampaio - Região Central de
Juiz de Fora/MG - Chuva dia 09/12/13
Fonte: Comunidade Mais JF





    Não existem respostas, o que se tem que fazer é encontrar soluções e é nessa busca que se encaixa o Arquiteto e o Urbanista. Ideias não devem ser copiadas, pois cada lugar é único, possui seus próprios problemas e características. O Arquiteto e Urbanista deve ser protagonista nos processos que produzem a cidade.

Fonte: Comunidade Mais JF
Nos próximos dias serão apresentados aqui no "O THAU DO BLOG" , trechos das entrevistas realizadas com Arquitetos e Urbanistas da cidade de Juiz de Fora. Cada postagem terá um tema: Verticalização, Espaços Livres Públicos, Patrimônio Histórico, dentre outros.


Texto redigido por: Ana Luiza Delgado e Ives Dotta - Graduandos em Arquitetura e Urbanismo/UFJF e responsáveis pelo Projeto " Mapeamento e Documentação da Nova Arquitetura da Cidade de Juiz de Fora (1990-2011)."
Contribuição e Postagem: Por Carla Bernardes


sábado, 7 de dezembro de 2013

Lina Bo Bardi - breve passagem pela vida da grande arquiteta ítalo-brasileira


Lina Bo Bardi, originalmente Achillina Bo, nasceu na cidade de Roma, capital italiana em 5 de dezembro de 1914, mas foi no Brasil que esta arquiteta  com inspirações modernista fez suas maiores criações. Nas terras brasileiras se casou com o crítico de arte Pietro Maria Bardi e dentre suas obras mais famosas estão o MASP (Museu de Arte de São Paulo) e o SESC Pompeia, também em São Paulo.

Lina Bo Bardi
Lina Bo Bardi graduou-se em Arquitetura pelo Colégio de Arquitetura de Roma em 1939, mas sua carreira iniciou-se em Milão juntamente com Carlo Pagani no estúdio Bo e Pagani, posteriormente trabalha com Giò Ponti, arquiteto e designer italiano e editor da revista Domus. Porém após elevar seu nome e montar um escritório próprio, Lina passa por intensas dificuldades decorrentes da II Guerra mundial que acarretou baixos serviços e até o caso de bombardeamento de seu local de trabalho. Fundou a revista Semanal A cultura dela vita juntamente com Bruno Zevi e foi ativista política do Partido Comunista Italiano, participando da resistência contra a Alemanha durante a guerra e agindo ativamente nos processos de reconstrução da cidade no seu sentido físico e moral.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Entendendo os pórticos bolonheses


Olá leitores de O THAU DO BLOG, estou mais uma vez aqui para falar de Bolonha, esta cidade que me encanta cada vez mais. Mesmo quando passamos pelas mesmas construções todos os dias, sempre há algo novo a reparar e quando resolvemos mudar o caminho, sempre descobrimos algo super interessante, mas que fica ali um pouco escondido. E hoje eu resolvi falar de um elemento essencial para o entendimento da capital bolonhesa.


Entre os pontos marcantes enquanto cidade, os quais constituem a sua própria identidade e que delineiam o seu perfil entre as cidades italianas, estão os famosos pórticos, que se alongam por 38 quilômetros dentro dos muros, e que narram a história e arquitetura da cidade com o passar dos tempos. Mesmo um turista que chega aqui procurando as Duas Torres com certeza se perde caminhando sob os pórticos e no final, encontrar as Duas Torres acaba sendo uma consequência.

Um pórtico pode ser considerado uma galeria aberta que fica precisamente na parte exterior do térreo de um edifício e que pode ser usada somente para fins decorativos ou não.

Este componente já era utilizado na arquitetura pré-grega, mas somente foi desenvolvido com o seu uso nas civilizações grega e romana. Posteriormente, os pórticos foram muito utilizados nas cidades medievais, no renascimento e na arquitetura neoclássica.




Pórtico da Chiesa di SS. Annunziata, Bolonha


Os pórticos bolonheses

Na Itália, as cidades medievais eram sempre caracterizadas pela construção de pórticos, e alguns deles podem ser encontrados também em cidades como Padova, Florença, Turim e Bolzano. Em outros países como Suíça e Espanha também são encontrados exemplares. Porém, a permanência e utilização dos pórticos de Bolonha se prolonga por mais de 1000 anos e se deve a uma particularidade.

Entre os séculos XI e XII, a falta de controle do espaço público por parte das autoridades italianas permitiu que um grande número de pórticos fossem construídos em áreas públicas, ou seja, o uso privado do espaço público. No final do século XII, o grande desenvolvimento econômico das cidades e o aumento da população fez com que as autoridades proibissem este tipo de invasão do espaço público e alguns edifícios, ou parte deles, foram demolidos.

E é neste ponto da história que se constitui a individualidade de Bolonha. Desde o século XI, já não se construíam pórticos utilizando o espaço público. A partir de então, todos eram construídos em espaço privado, e dia após dia, esta importante mudança se tornou uma regra definida. Porém, no final do século XII, enquanto nas outras cidades era determinado que as pessoas precisavam ser licenciadas para usar o espaço público, a permanência dos pórticos de Bolonha foi definida como obrigatória para todas as ruas onde eles permitiam, além do uso privado, o uso público do espaço.

O uso dos pórticos nesta época ainda pode ser relacionado com o desenvolvimento da cidade com a Alma Mater Studiorum que, entre 1100 e 1200, atraiu um grande número de estudantes para Bolonha a partir de toda a Europa. Isso deu origem a uma habitação padrão para estudantes nos pisos superiores dos edifícios, enquanto lojas e oficinas de artesãos foram localizados no piso térreo Em 1288, a legislação determinava que todas as casas novas deveriam ser construídas com pórticos de 7 pés bolonheses de altura, para permitir a passagem de um homem montado a cavalo. Estas estruturas garantiam o uso público do solo e, apesar da manutenção ser de responsabilidade do proprietário, a construção de um pórtico oferecia a oportunidade de ampliar a metragem quadrada dos pisos superiores.




Pórtico da Via Zamboni, zona universitária de Boonha

Além disso, a comunidade urbana gostou da possibilidade de caminhar na rua protegida do mau tempo e também de trabalhar ao ar livre. Pode-se concluir que os pórticos de Bolonha se perpetuaram porque são úteis em escala pública, e a população encontrou os melhores métodos para utilizá-los.

Hoje, os pórticos de Bolonha são protegidos de acordo com a legislação nacional e regulamentos municipais. Eles são considerados patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO.

Arquitetura dos pórticos

Em Bologna encontramos diversos tipos e estilos de pórticos preservados: pórticos de madeira medievais, pórticos estruturais góticos, pórticos renascentistas que estão integrados aos edifícios e os pórticos do século XIX que caracterizam a arquitetura da corte e pórticos dos subúrbios.




Variedade de pórticos nas proximidades do Gueto Hebraico de Bolonha

Os pórticos medievais tem seu maior exemplo no pórtico da Corte Isolani, fachada para a Strada Maggiore. Todo feito em madeira e com cerca de 9 metros de altura, foi construído em 1250 em estilo romanico-gótico e hoje é um dos poucos exemplos da construção civil bolonhesa do século XIII. Outro exemplo é o pórtico do Palazzo del Podestà, localizado na Piazza Maggiore, restaurado por Alfonso Rubbiani em estilo medieval.

Pórtico e fachada da Corte Isolani, Bolonha

A arquitetura renascentista pode ser observada nos vários pórticos da época, como no pórtico da Basilica di San Giacomo Maggiore, na Via Zamboni e em alguns edifícios da Piazza Santo Stefano.


Piazza e Chiesa Santo Stefano, Bolonha


Piazza Santo Stefano, Bolonha



Composições

A composição de pórticos pode criar novos elementos arquitetônicos como os quadripórticos, que são áreas abertas circondadas por pórticos em quatro lados. Na arquitetura romana os quadriportici eram os espaços que ficavam nos bastidores da scena do teatro, abertos aos espectadores durante as pausas. Nas primeiras basílicas cristãs, o quadripórtico é o espaço quadrado ou retangular que precede a entrada ao edifício.

Os quadripórticos são elementos típicos da arquitetura paleocristã, e raramente estão presentes na arquitetura românica, como na basílica de Sant’Ambrogio em Milão e na arquitetura do renascimento, como na Basílica di Santa Maria dei Servi em Bolonha, que se localiza na Strada Maggiore.




Quadriportico da Basílica di San’Ambrogio em Milão

Curiosidades

Além de se tornarem uma singularidade urbana, os pórticos assumiram em alguns casos significado religioso e social.

Desde o século XII , o povo de Bolonha subia em peregrinação a colina chamada Monte della Guardia para chegar ao Santuário da Maddona di San Lucca.

No final do século XVII, um longo pórtico de 3,5 quilômetros e 666 arcos foi construído graças às contribuições fornecidas por todos os cidadãos para abrigar os peregrinos durante a subida. Este pórtico é o maior em extensão e permanece como o símbolo do espírito cívico e religioso do povo de Bolonha. Um patamar semelhante pode ser encontrado no lado oposto da cidade, ligando o centro da cidade até a igreja Santa Maria Lacrimosa degli Alemanni.



Pórtico para subir até ao Santuário della Madonna di San Lucca, Bolonha

Na segunda metade do século XVI surgem algumas das mais importantes galerias abertas de Bolonha: o pórtico que sustenta e esconde a igreja de San Bartolomeo e Gaetano atrás das Duas Torres, projetado por Andrea da Formigine e a galeria do Palazzo del Monte, na via Galliera.


Pórtico da igreja de San Bartolomeo e Gaetano, Bolonha

Projetado no fim do século XIV, o pórtico da Basílica di Santa Maria dei Servi é o mais largo da cidade. O projeto é atribuído ao arquiteto Antonio di Vincenzo. A construção iniciou-se em 1393 e concluiu-se em 1855, com o quadripórtico na fachada.



Quadripórtico da igreja de Santa Maria dei Servi, Bolonha


O pórtico mais estreito tem apenas 95 centímetros de largura e se encontra na Via Senzanome.
Existem também pórticos decorados com afrescos. São os casos do pórtico do edifício do Banco D’Italia, localizado na Piazza Cavour, e muitos outros.



Pórtico do edifício do Banco D’Italia, Bolonha

Caminhando por Bolonha, é impossível não reparar como este elemento tem um papel fundamental na composição arquitetônica e cultural da cidade. Esta singularidade urbana e, ao mesmo tempo, a pluralidade de estilos oferecem ao observador uma grande enciclopédia, senão um museu ao ar livre sobre pórticos e suas mais variadas leituras e releituras.

Referências:
Immagina Bologna - www.immaginabologna.it



Por Jéssica Rossone

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Palestra - Nikola Arsenic e Henrique Gonçalves


No dia 4 de novembro, foi realizada uma palestra com os arquitetos Nikola Arsenic e Henrique Gonçalves durante uma aula na disciplina de projeto para a turma do segundo período de arquitetura e urbanismo.

Ao longo da palestra, que possuía uma temática mais voltada para o desenvolvimento de projetos residenciais, os arquitetos apresentaram a forma como se dá a concepção e a inspiração para a criação de um projeto, também apresentaram alguns exemplos de residências realizados pelo escritório Arsenic Arquitetos.

A palestra foi divida em duas partes, sendo a primeira uma apresentação de Arsenic de diversas residências que marcaram sua vida, atuando como inspiração e como “impulso para pensar”.

Nikola Arsenic apresenta aos alunos a Villa Katsura

Foram apresentadas obras de diversos arquitetos como Lina Bo Bardi, Mario Botta, Paulo Mendes da Rocha e Alberto Campos Baeza. Também foram apresentados projetos como a Villa Savoye de Le Corbusier, a casa do arquiteto Alvar Aalto e a Villa Rotonda de Andrea Palladio.

Nikola também apresentou a Villa Imperial Katsura e destacou além do sistema de modulação a importância dos ambientes que fluem, a relação que deve ocorrer entre interior e exterior. No caso da Casa Malaparte, destacou como uma residência atua como “cenário de vida”, já que aquele local foi escolhido para morar, independente das mais diversas condicionantes e de múltiplos contratempos. Ele citou também o exemplo da Casa da Cascata de Frank Lloyd Wrigth, e de como o arquiteto através de embasamento, estudos e um forte conceito, convenceu o cliente (Edgar Kaufmann) a construir uma casa em cima de uma cascata, tornando-a uma das residências mais importantes para o mundo inteiro.

Atuando também como professor da disciplina de Residências Unifamiliares, no Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, Nikola afirma que o projeto residencial deve ser pensado como “um universo particular”, portanto há alguma dificuldade em ser objetivo na criação dos espaços de acordo com as funções de cada ambiente e o perfil do cliente. O arquiteto também deve se indagar: “O que uma casa pretende? Que sensações ela deve causar?”
É importante pensar nos planos e composições arquitetônicas, no estudo das formas, nos elementos e suas relações e na articulação dos espaços.

Na segunda parte da palestra, Henrique Gonçalves, coordenador de arte do escritório, apresentou alguns estudos preliminares realizados pelo escritório com exemplos de tipos e famílias diferentes, mas que possuem alguns conceitos em comum na natureza compositiva dos projetos como, por exemplo, o uso de ambientes integrados, conjugados, passando do compacto e delineado para espaços mais dinâmicos e multifuncionais. Também falou-se no fato de “ver sem ser visto”, portanto pensar em como se dão os acessos da residência de acordo com espaços que devem ser acessados de acordo com quem frequenta cada ambiente da casa.

Henrique Gonçalves apresentando projeto residencial desenvolvido pelo escritório

Os projetos apresentados foram:

1    Casa 1 – Situada em Manaus, poderia ser uma casa investimento. O projeto consiste em uma residência de dois pavimentos, possui uma área social livre e integrada, área de serviço mais compactada, com várias divisões. Também conta com área íntima (no andar superior) e funcional em seu programa de necessidades programa de necessidades.

   Casa 2 – Situada em um condomínio em Manaus, a casa de um pavimento, não possui muro na frente, portanto, fachada frontal bem visível recebeu maior destaque. Foi enfatizado o fato de a casa possuir quatro entradas (lazer, social, social íntimo e serviço) e da importância desses acessos para o funcionamento da residência.

   Para saber mais sobre o arquiteto Nikola Arsenic confira uma entrevista cedida para O THAU DO BLOG em 2011 no link: http://othaudoblog.blogspot.com.br/2011/11/entrevista-arquiteto-nikola-arsenic.html

Para conhecer mais projetos do escritório acesso o link: http://arsenicarquitetos.com/




Por Giulia Drumond

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Buenos Aires - Plaza de Mayo

Durante uma viagem a Argentina tive a oportunidade de conhecer uma das mais belas cidades da América Latina, a Capital Buenos Aires. Uma cidade rodeada por história e ao mesmo tempo por contemporaneidade. 

Congresso Nacional - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo próprio
Por toda parte que se olha há algo belo e irreverente: construções, praças, boulevares, monumentos, o comércio, tudo isso faz de Buenos Aires uma cidade única e cheia de encanto.


Avenida no Centro de Buenos Aires
Fonte: Arquivo próprio
Dentre vários espaços agradáveis o que mais me chamou a atenção foi o a Praça de Maio (Plaza de Mayo) criada em 1580, situada no coração da cidade no Bairro de Montserrat, abriga os principais monumentos e órgãos  da Capital do país:


Plaza de Mayo - Buenos Aires/Argentina
Ao fundo: A Casa Rosada
Fonte: Arquivo próprio
A Casa Rosada - Casa do Governo:

Com fortes influências Neoclássicas é a Arquitetura mais importante da cidade. Sua entrada é gratuita e abriga quadros de personalidades do país, monumentos, espaços aonde acontecem eventos do Governo, além de uma arquitetura monumental. 


Casa Rosada - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo Próprio
Detalha da Fachada Frontal - Casa Rosada - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo Próprio
Pátio Central - Casa Rosada - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo próprio
Catedral Metropolitana:

Sua construção foi terminada em 1822 possui  forte influência clássica, sua arquitetura se assemelha à Templos Gregos. 

Sua fachada frontal é composta por uma série de doze colunas coríntias, acima delas assenta um frontão triangular decorado com uma representação bíblica. Seu tamanho e imponência surpreendem.

No interior há quadros e esculturas, principalmente de artistas italianos. 


Detalhe do Frontal e da Coluna Coríntias - Catedral Metropolitana de Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo próprio


Catedral Metropolitana - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo próprio




Cabildo

A construção atual teve início no princípio do século XVIII, porém sofreu muitas modificações.


Em 1810 foi o centro dos acontecimentos, que deram lugar à Primeira Junta de Governo e a posterior declaração da independência.


Cabildo - Buenos Aires/Argentina
Detalhe da Fachada Frontal Cabildo - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo próprio


Outras Imagens: Plaza de Mayo

Entorno da Plaza de Mayo - Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo Próprio

Entorno Plaza de Mayo -Buenos Aires/Argentina
Fonte: Arquivo próprio
Mostrei aqui apenas uma pequena parte desta cidade que possui riqueza e beleza em cada espaço.


Por Carla Bernardes

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