Fachada Atual |
O progresso chegava rápido à cidade de Juiz de Fora na década de 20. A "Manchester mineira" era próspera e moderna, cada vez mais inusitada para uma Minas agrícola e Barroca. Enquanto se tornava polo industrial, via surgir seus poetas, pintores, artistas e se tornava uma das cidades mais importantes do país. A população que havia mergulhado na Belle Époque, reclamava por uma casa de espetáculos condizente com as suas expectativas culturais.
Construção |
Não foi o primeiro Teatro da cidade mas com certeza sua construção em 1927 foi a mais arrojada. O arquiteto responsável era Raphael Arcuri, da companhia Pantaleone Arcuri, responsável por tantos projetos importantes e por mudar a face arquitetônica de Juiz de Fora. Sua obra erguida na principal rua da cidade - a Rua Halfeld - materializava o sonho do desenvolvimento mineiro. O amplo vão sem pilastras, sustentado por uma estrutura metálica vinda da Inglaterra, atemorizou os menos informados da época. A arquitetura eclética se mantinha forte ainda que trouxesse o art déco fundido à sua ornamentação clássica. O pintor italiano Ângelo Bigi criou os afrescos com cenas de personagens em jardins românticos e ilustrações de grandes nomes da música, como Ludwig Van Beethoven.
Um ano e quatro meses mais tarde, pouco antes da Crise de 1929, o Central abria suas portas para os dois mil expectadores com o filme mudo "Esposa alheia". Era um dos maiores e mais belos teatros do país, além de uma das poucas casas do Brasil com infra-estrutura para montagens tão diversas quanto teatro, ópera, balé e concertos.
Cine-Teatro Central em seus primórdios |
A derrocada do cinema e do teatro agravou o processo de abandono e deterioração do Central nos anos 80. Então, teve inicio um movimento de revalorização do espaço com o tombamento do prédio como bem do patrimônio cultural do município, em 1983, atribuindo-lhe valor histórico e artístico.
Interior |
A administração municipal no entanto, não possuía recursos suficientes para salvar o edifício. A solução foi negociar com a Companhia Franco-Brasileira, então proprietária do cine-teatro. Houve uma mobilização de lideranças locais no Governo Federal e a Universidade Federal de Juiz de Fora adquiriu o imóvel através de recursos do Ministério da Educação, em 1994. Neste mesmo ano, o Central foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Cine-Theatro Central fechou suas portas em 1996 para restauração. Com incentivos fiscais, grandes empresas apoiaram financeiramente o projeto, orçado em 2 milhões de reais. Todo o trabalho realizado pelos restauradores e seus auxiliares - estudantes de Artes e Arquitetura da UFJF - foi acompanhado atentamente pelo Iphan. A restauração gerou uma documentação minuciosa de cada centímetro quadrado, para o caso de uma futura intervenção.
Restauração das pinturas |
As ações incluíram obras de recuperação do prédio, com troca de telhado, reforma de instalações elétricas, de poltronas e camarotes, instalação de equipamentos e mecânica cênica, que colocaram a engrenagem do velho teatro em funcionamento outra vez.
Sete décadas depois, o Central estava pronto para o seu renascimento. Em 14 de novembro de 1996, o cine-teatro foi oficialmente reinaugurado. Ali estava de volta o grande templo da cultura de Juiz de Fora, um dos maiores patrimônios arquitetônicos da nossa cidade.
Fotos: Arquivo pessoal e Cine-Theatro Central/Alexandre Dornelas
Fotos: Arquivo pessoal e Cine-Theatro Central/Alexandre Dornelas
Essa foi uma pesquisa de visita técnica ao Cine-Theatro Central idealizada pela professora Mônica Olender na disciplina de Técnicas Retrospectivas.
Por Vitor Wilson