Até aonde a arquitetura é determinante?
Até aonde temos o direito, e devemos,
tentar influenciar na vida das pessoas?
Não são perguntas fáceis de responder. Nem para nós, ainda estudantes, nem para nossos mestres, nem sequer para os mestres de nossos mestres. Isso porque a arquitetura é empiricamente baseada em fatos, muda-se uma vírgula, muda-se muita coisa.
Peter Eisenman projetou o Memorial do Holocausto de Berlim. Conceituou-o sem considerar a presença de pessoas em seu interior, seria apenas uma obra de arte em grande escala em memória das vítimas. O que o arquiteto não contava é que as pessoas animariam o local de uma maneira inesperada e desassociada a um memorial: diariamente pessoas passeiam por lá para tomar sol, merendar, saltar sobre as lousas e, de acordo com ele, até fazem amor...
Mas se por um lado a arquitetura não é determinante, por outro a “má arquitetura” tem feito a sociedade tomar um caminho inverso do desejado.
-Nós clamamos por igualdade e respeito para chegarmos ao fim da violência, mas com nossa arquitetura nos fechamos por trás de grandes muros e portões que apenas aumentam essa distância entre a classe favorecida e a desfavorecida.
-Nós queremos mais convivência entre as pessoas, ter um grupo de amigos em cada local, mas projetamos casas gigantes com área de lazer, academia, e escritório, para que não tenhamos que sair de lá.
-Queremos mais convivência com os familiares, pais e filhos, mas projetamos quartos enormes, cada um com seu banheiro, sua TV, seu computador, para termos “privacidade”.
-Queremos uma arquitetura que nos reflita, somos complexos e contraditórios, compostos por detalhes e, no entanto, projetamos casas minimalistas.
O papel do arquiteto é o mesmo do médico, do funcionário público, do atendente de tele-marketing. É o papel de fazer o que estiver ao seu alcance para tentar mudar o mundo. Através de uma arquitetura igualitária, que respeite os usuários e os “não-usuários”; Uma arquitetura que realmente responda aos anseios da sociedade. Temos que olhar além do que vemos para projetarmos edificações que daqui a 100 anos sejam respeitadas pelo que proporcionaram à sociedade.
Por Daniela Pereira Almeida