terça-feira, 18 de outubro de 2011

Gestão de Multidão - Revendo o Rock-in-Rio

Rock Street, Rock in Rio, Rio de Janeiro 2011. Superlotação de uma área longe dos palcos.

A convite de O THAU do BLOG, o Engenheiro Fernando Saldanha, especialista em gestão de multidão, abre nossa seção de colunistas convidados com esta pequena reflexão sobre os grandes eventos que têm acontecido e que ainda estão previstos para acontecer no Brasil nos próximos anos. Saldanha chama a atenção para o fato de que os projetos de arquitetura devem também ser adequados e bem dimensionados para receber e comportar com segurança estas multidões que se dirigem aos grandes eventos. Confiram:

"O show terminou, mas o Rock-in-Rio de 2013 já foi lançado. Hoje, dia 06 de outubro, teremos Justin Biber no Engenhão, domingo teremos um Fla Flu na Zona Norte enquanto Eric Clapton estará tocando na Zona Oeste.

O Rio de Janeiro hospeda inúmeros grande eventos todos os anos. Alguns são mais do grande, são mega, mas não desenvolvemos uma tecnologia de organizar estes espetáculos. O primeiro dia do Rock-in-Rio foi lamentável, segundo palavras da Roberta Medina, uma das organizadoras do Rock-in-Rio. Este lamento foi rapidamente acompanhado pela observação de que os erros verificados foram devido ao ineditismo do show e que, com o passar do tempo, tudo iria se arrumar. Ontem tivemos o primeiro show do Justin, e hoje o Jornal Hoje da TV Globo noticiou que a organização da entrada do evento iria ser reestruturada e melhorada para evitar a confusão que houve no primeiro dia não se repita hoje, segundo dia. Isto foi divulgado como se um erro no planejamento de um show para mais de 50.000 pessoas fosse algo trivial.

No metrô, cheio, existe pelo menos um caso onde uma passagem larga
desemboca em duas escadas cuja vazão deve ser 50% do que seria a vazão da
passagem. Local altamente propício a um desastre.

Por traz deste método de tentativa e erro existe uma falta de profissionalismo. O desconhecimento do processo de Gestão de Multidão, num evento com milhares de pessoas pode ser uma atitude cujas consequências podem ser fatais.

Um dos tópicos relacionados com a gestão de multidão que passam despercebidos são as falhas do projeto arquitetônico das instalações. A acomodação de uma multidão num evento de forma ordeira e segura depende de três fatores chaves: instalação física, disponibilização de informação para o público e existência de uma equipe de monitoração e controle capacitada.

No metrô existem passagens onde no meio do caminho há uma lixeira
e um extintor. Com a estação vazia não há problemas, mas se houver aglomerações pode causar sérios problemas.

Em todos os três pontos temos errado. Mas destes três, o que passa mais desapercebido é o erro no projeto das instalações. Tomemos o caso do Rock-in-Rio. O projeto era lindo e funcionou muito bem para a transmissão pela TV, mas com relação à segurança do público ele era deficiente. As saídas, incluindo as de emergência, estavam concentradas num dos lados da Cidade do Rock. Havia gargalos internos. A estrutura da tenda VIP interferia na movimentação da pista. A roda gigante estava num local de passagem. O próprio Roberto Medina disse na TV Globo que o próximo Rock-in-Rio terá uma redução de 15% do público. Ou seja, na visão do organizador do Rock-in-Rio havia gente em excesso. Na nossa visão o local é que foi mal projetado. O problema não são as pessoas. Elas nunca são o
problema.

Na cidade do Rock a roda gigante foi colocada num local de
passagem causando um estrangulamento.

O CERNE (www.cernebr.com.br) é um Centro de Estudos que considera que o conhecimento do comportamento da multidão e da forma de como geri-la são pré-requisitos para a montagem de um grande evento seguro e confortável e para isto estamos trabalhando e estudando. A beleza de um projeto é fundamental e ele será mais belo ainda quando abrigar de forma confortável e segura seus usuários."


Por Vitor Wilson 

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